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A renovação da Paróquia

Dom Odilo
Cardeal Dom Odilo

Cardeal Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo

A Paróquia é o tema principal da 52ª assembleia geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), realizada em Aparecida de 30 de abril a 9 de maio. Já na assembleia anual de 2014, o tema tinha sido refletido; desta vez, voltou mais amadurecido, resultando na aprovação de um novo Documento da CNBB sobre o assunto.

A insistência no tema pode ter, ao menos, dois significados diversos: que a Paróquia é muito importante para a própria Igreja e que ela precisa passar por transformações e ser revitalizada.

A Paróquia, de fato, tem sido ao longo dos séculos o rosto mais visível e próximo da Igreja; ela é a imagem perceptível daquilo que a própria Igreja é, no seu todo: a comunidade dos batizados, convocados e guiados pela Palavra de Deus, reunidos em torno da Eucaristia e de um ministro ordenado que, como pastor encarregado, os serve e conduz em nome de Cristo Pastor, na comunhão da grande Comunidade eclesial.

Na Paróquia, os filhos da Igreja expressam e nutrem sua fé, celebram os Mistérios de Deus, organizam e praticam a caridade, inserem-se concretamente nas realidades da comunidade humana na qual vivem, para testemunhar a vida nova e a esperança que vêm do Evangelho. Ainda na Paróquia, floresce a vida cristã na riqueza e na variedade dos dons do Espírito Santo e se cuida de transmitir a fé e de viver a dimensão missionária da Igreja.

Apesar das muitas críticas feitas à Paróquia, a Igreja não a abandona e continua vendo nessa forma de organização da vida cristã e da missão eclesial uma escolha válida. Ela precisa, é certo, de ajustes e melhorias constantes e é isso que a CNBB está buscando fazer. A vida cristã tem uma dimensão pessoal e envolve diretamente a pessoa, suas escolhas e respostas de fé à proposta de vida segundo o Evangelho. Porém, não é individualista nem meramente subjetiva, mas vinculada à vida comunitária e eclesial.

A cultura do nosso tempo, marcada fortemente pelo individualismo e pelo subjetivismo, também pode contagiar a vida cristã, abandonando seus vínculos comunitários e eclesiais. Nisso haveria uma grave perda. De fato, nós não cremos “do nosso jeito”, nem buscamos dar soluções às questões morais “do nosso jeito”, mas do jeito da Igreja. Já desde o princípio, os apóstolos tiveram a preocupação de transmitir o que viram, ouviram e receberam do Senhor Jesus; e Paulo, em seguida, insiste em dizer: “o que recebi, foi isso que também vos transmiti”. Ele queria destacar que não inventava, de sua cabeça, o que pregava aos outros.

E os apóstolos e, depois deles, os Pastores da Igreja, também insistiam em dizer que era preciso viver de maneira coerente com o que se aprendeu do Evangelho, não mais apenas conforme os costumes e práticas do tempo. Assim foi ao longo dos séculos, e assim continua até hoje. O papa Bento XVI lembrou aos jovens, na Jornada Mundial da Juventude, de Colônia (Alemanha), que a fé e a vida cristã não são feitas à maneira de “self-service”, onde cada um escolhe só o que gosta ou decide o que lhe convém… Nossa fé é ligada à Comunidade de fé; a própria Igreja é o “sujeito da fé”; com ela nós cremos e praticamos a vida cristã.

A Paróquia precisa, pois, ser redescoberta como o “lugar” da vida comunitária da fé e da vida cristã. O Documento da CNBB a apresenta como “Comunidade de Comunidades”, com muitas expressões pessoais e comunitárias da fé e da vida cristã. A Paróquia precisa favorecer as muitas formas de vida eclesial comunitária, com tudo o que isso significa para as relações mútuas entre os fieis e, destes, com a comunidade humana plural circunstante.

Usando a linguagem do Documento de Aparecida (2007) e da recente Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, do papa Francisco, podemos dizer que também a Paróquia precisa fazer a sua “conversão pastoral e missionária”, para expressar melhor a sua vida e missão nos tempos atuais. E é isso que o novo Documento da CNBB orienta a fazer.

Agora sim: São José de Anchieta, o Apóstolo do Brasil

Papa assinou o documento de canonização na manhã de hoje (03/04)
Papa assinou o documento de canonização na manhã de hoje (03/04)

(ACI).- A Arquidiocese da cidade de São Paulo, da qual o futuro santo José de Anchieta foi um dos fundadores, se rejubila com toda a Igreja pela elevação aos altares do missionário jesuíta chamado “O Apóstolo do Brasil” e lança uma especial programação para a véspera do dia 3 de abril, quando o decreto de canonização será assinado pelo Papa Francisco em Roma.

Em um recente artigo publicado no site da Arquidiocese da capital paulista, o Cardeal Odilo Pedro Scherer escreve: “Manifesto, em nome da Arquidiocese de São Paulo, profunda gratidão a Deus pela proclamação do bem-aventurado Padre José de Anchieta como “santo”! Ad maiorem Dei gloriam – que tudo seja para a maior glória de Deus!”

“Este momento foi longamente esperado por esta Igreja que está em São Paulo. Grande missionário, São José de Anchieta deu o testemunho de uma vida santa, já reconhecido assim enquanto ainda vivia; por isso, logo após o seu falecimento, em 1597, foi aclamado como “Apóstolo do Brasil!

Gratidão ao Papa Francisco, conhecedor da história de Anchieta e dos primeiros missionários jesuítas no Brasil, que acolheu benevolamente o pedido da Igreja e, bem depressa, deu o reconhecimento oficial a Anchieta como “santo”.

A Igreja, nesta Metrópole, deve seus inícios à obra evangelizadora de Anchieta e de seus companheiros na missão de São Paulo de Piratininga. Desta missão, também nasceu a própria cidade de São Paulo”.

“São José de Anchieta significa muito para nós, em São Paulo, e nos sentimos honrados com a sua canonização!”, expressou o Cardeal.

Por último o purpurado destacou o “exemplo – de jovem entusiasta por Cristo e pelo Evangelho, de homem santo, movido pelo amor a Deus e aos irmãos, de missionário incansável, zeloso na transmissão da alegria do Evangelho, de pacificador respeitoso das culturas dos povos originários do Brasil, de educador, pai dos pobres e enfermos – continue a nos motivar e inspirar na
dedicação à missão”.

“Somos continuadores do trabalho por ele iniciado. Que sua intercessão e seu exemplo nos valham sempre! São José de Anchieta, rogai por nós!”Conclui o artigo de Dom Odilo Pedro Scherer.

Papa tira Dom Odilo Scherer de comissão do Banco do Vaticano

Dom Odilo
Bento XVI havia mantido o mandato de Dom Odilo

ESTADÃO |Jamil Chade | GENEBRA – Em um ato para dar início a uma verdadeira reforma no Banco do Vaticano, o papa Francisco tirou da cúpula da instituição financeira o cardeal de São Paulo, d. Odilo Scherer. Outros três cardeais também foram substituídos, no que está sendo considerado na Santa Sé como a principal demonstração de Francisco de que a reforma será profunda. A pessoas próximas a ele, o argentino já avisou: se não conseguir reformar o banco, vai fechar a instituição.

D. Odilo fazia parte do grupo de cardeais que atuava para monitorar as atividades da Instituição para Obras Religiosas, o nome oficial do Banco do Vaticano. Considerado um dos fortes candidatos no conclave de 2013, d. Odilo tinha o apoio dos setores mais conservadores do Vaticano.

Renovação de mandato

Dias antes de deixar o poder, o então papa Bento XVI renovou o mandato do brasileiro e dos demais cardeais do órgão de supervisão por mais cinco anos. Entre as funções do grupo está justamente a nomeação do presidente do banco.

Mas, próximo de cumprir um ano no Vaticano e adotando a austeridade como sua bandeira, Francisco optou por rever a grupo e colocou em seu lugar outros cardeais vistos como aliados em sua busca por reformar a Santa Sé.

Quatro dos cinco cardeais no organismo foram substituídos. Saíram os cardeais Tarcisio Bertone, Telesphore Toppo of Ranchi e Domenico Calcagno, além de d Odilo. O único que permaneceu foi o francês Jean Louis Tauran.

Os substitutos

No lugar desse grupo, o papa nomeou o cardeal de Toronto, Thomas C. Collins, Pietro Parolin, Christoph Schonborn de Viena e considerado como um reformador, e o cardeal Santos Abril Castello, amigo do papa.

O grupo liderado por Bertone foi alvo de duras críticas nos últimos anos por não conseguir conter uma série de escândalos financeiros no Banco do Vaticano, inclusive com suspeitas de lavagem de dinheiro do crime organizado.

Em junho, o papa criou uma comissão para estudar uma reforma na instituição. Pela primeira vez em mais de cem anos, a entidade publicou um balanço anual de suas contas.

Na avaliação do papa, o Vaticano deve voltar a se concentrar em sua missão religiosa e, para isso, uma limpeza em sua estrutura precisaria ocorrer. Uma dessas revisões seria repensar a função do Banco do Vaticano.

Balanço positivo da Rio + 20, segundo Cardeal dom Odilo Scherer

entrevista-dom-odilo-schererO Legado do Papa Bento XVI para a Conferência Rio + 20, Cardeal dom Odilo Scherer, destaca ganho na discussão da Conferência da ONU mesmo fazendo ressalvas sobre lacunas no documento final como aquela que ” não se chegou a estabelecer a contribuição dos países ricos, daqueles que mais poluem, para formar um fundo a partir do qual possa ser financiada a economia limpa, a economia verde que se quer promover”.

A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, será encerrada sexta-feira 22, com a divulgação do documento final, contendo 49 páginas, denominado “O Futuro Que Queremos”. O balanço dos dez dias de discussões divide opiniões. Autoridades brasileiras consideram um avanço a inclusão do desenvolvimento sustentável com erradicação da pobreza, enquanto movimentos sociais e alguns líderes estrangeiros condenam a falta de ousadia do texto.

Segundo a Agência Brasil, o tom de crítica deve predominar nesta sexta-feira, pois as organizações não-governamentais (ONGs) que promoveram vários protestos durante a conferência prometem manifestações.

Para o legado pontifício para a Cúpula, Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Scherer, além de algumas lacunas, como a não-criação do fundo de contribuições dos países ricos, a Conferência trouxe novidades, como a nova consideração de chefes de Estado e Governo em relação aos oceanos:

“Acredito que o resultado é bastante positivo, embora haja muitas observações críticas de que o resultado é menos do que o esperado e que não foi bastante ousado em estabelecer metas ou medidas concretas que deveriam ser assumidas. Temos que considerar que numa Cúpula internacional deste porte, com a presença de quase 190 nações não se pode esperar demais, no sentido de resultados concretos. A crítica é que, por exemplo, não se chegou a estabelecer a contribuição dos países ricos, daqueles que mais poluem, para formar um fundo a partir do qual possa ser financiada a economia limpa, a economia verde que se quer promover. É uma verdade que esta lacuna naturalmente deverá ser preenchida através de novas negociações, com iniciativas como a da França, que anunciou claramente que quer taxar as transações financeiras internacionais que passam pelo país, e aplicar esta taxa em uma economia mais limpa e promover a preservação do meio ambiente.

Existem certamente muitos pontos positivos a serem observados: a declaração, que foi concordada através de negociações, contém pontos relevantes, primeiro porque estabelece uma identificação do que se pode chamar de economia verde, economia sustentável, colocando três pilares fundamentais. Primeiramente, que o homem esteja ao centro, e portanto, que a economia sustentável deve ser socialmente sustentável. Depois, é claro, que a economia seja economicamente sustentável. Deve seguir as leis econômicas porque senão se torna um caos. O terceiro ponto, que a economia verde seja ecologicamente sustentável, que tenha sempre em consideração a dimensão ecológica da economia, do trabalho, da produção e do consumo. O que também é novo neste documento, com uma nova posição, é a preocupação com os oceanos, que até agora nos documentos anteriores estava ausente. Por isso já se está falando na Conferência que a economia sustentável, além de verde, deve ser também azul, em referência aos oceanos, às águas.

Outro apelo que vai aparecendo é que o modelo de economia não deve se basear simplesmente na produção e no consumo; o critério de desenvolvimento não devem ser simplesmente os índices econômicos: deve haver um conjunto de índices que apontem um modelo de desenvolvimento.

Enfim, acredito que o mais positivo de todas as contribuições que a Rio+20 está trazendo é uma nova tomada de consciência da comunidade internacional a respeito dos problemas da sustentabilidade da economia, dos problemas do clima e da urgente necessidade de todos de fazerem a sua parte; que não podemos protelar por mais tempo a tomada de decisões porque o clima, o planeta está reclamando: a sustentabilidade está ameaçada”.