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O que esperar do novo Papa?

Dom Murilo Krieger
Arcebispo de Salvador (BA)

Muito já foi escrito e falado sobre o que o próximo Papa deverá fazer para agradar à opinião pública e, assim, conseguir que cresça o “ibope” da Igreja. Fôssemos oferecer uma síntese das sugestões apresentadas na TV, nos jornais e nas revistas semanais a respeito, teríamos um volumoso livro, que exigiria daquele que for eleito vários dias para ler. Aliás, é surpreendente o número de “vaticanistas” que surgiram de repente, todos com soluções para todos os problemas, todos com certezas absolutas e respostas fáceis para complicadas questões religiosas. Claro, nessas “soluções” não há preocupação com expressões como “fidelidade ao Evangelho”, “busca da vontade de Deus”, ou “caminho de santidade”. Para não poucos, a Igreja deveria ser apenas e tão-somente uma organização não governamental para se dedicar à paz, à construção da fraternidade e à defesa da justiça. Se, tendo recebido a ordem de ir pelo mundo todo para evangelizar, os apóstolos tivessem se guiado somente pela divulgação de tais valores, poderiam até ter recebido algum “Nobel” da época, mas o cristianismo não se teria divulgado pelo mundo, atraindo inúmeras pessoas no seguimento de Jesus Cristo.

Mas, então, qual será o programa do próximo Papa? Que valores defenderá? Que preocupações terá? Não é difícil responder a essas perguntas, mesmo não sendo um “vaticanista”. Tendo diante de si o testemunho de Pedro, de Paulo e dos demais apóstolos, o novo Papa sentirá ser sua primeira e principal tarefa proclamar que Jesus Cristo é “o Filho de Deus vivo!”, o revelador do Deus invisível, o primogênito de toda a criatura e o fundamento de todas as coisas. Ele é o nosso salvador; é a nossa esperança. Um dia, virá para nos julgar.

Outra meta do futuro Papa será a de nos ensinar que a busca da santidade não é um adorno em nossa vida, nem meta para alguns poucos privilegiados. A santidade é a razão de ser de nosso seguimento de Cristo. Desde o início de sua pregação, Jesus teve a ousadia de nos apresentar ideais humanamente impossíveis de serem alcançados, mas que, com a graça divina, tornam-se possíveis: amar a Deus sobre todas as coisas, amar o próximo como a si mesmo, perdoar os que nos prejudicam ou ofendem… Para resumir o caminho de santidade que apresentava, Jesus não economizou ousadia: “Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito”.

O futuro Papa – não é preciso ser futurólogo para prever isso – defenderá que a vida humana é sagrada e que é preciso protegê-la desde a concepção, até o seu término natural. Ensinará, portanto, que não é possível se pensar em ser fiel ao Evangelho e admitir o aborto ou a eutanásia. Quando se pronunciar sobre o matrimônio, lembrará que se trata de uma aliança pela qual o homem e a mulher (um homem e uma mulher!) constituem entre si uma comunhão para toda a vida. Ao tratar da família, insistirá que se trata da primeira e vital célula da sociedade, pois é dela que saem os cidadãos e ela é a primeira escola das virtudes sociais.

O que esperar do próximo Papa? Mais do que esperar, desejo que ele seja alguém que faça com todos nós o que Jesus fez com os discípulos de Emaús: depois de terem caminhado com o Mestre, tomaram consciência de que ele os ajudara a reler os acontecimentos da História da Salvação. Espero que o próximo Papa nos recorde continuamente que toda a nossa vida é acompanhada pelo olhar amoroso do Pai. Tomando consciência desse olhar, nos convenceremos de que não temos o direito de desperdiçar a vida com vaidades inúteis, com glórias passageiras, ou com orgulhos que, segundo a linguagem popular, “a terra há de comer”. A consciência do olhar do Pai nos convencerá de que a vida é um dom preciso demais para ser desperdiçado.

Espero que o próximo Papa tenha um pouco da bondade de João XXIII, da firmeza de Paulo VI, da simplicidade de João Paulo I, do entusiasmo de João Paulo II e da sabedoria de Bento XVI. Não me importará, então, se for europeu ou americano, africano ou asiático. Para mim, o importante é que seja um homem de Deus.

Não abandono a Cruz

Dom Murilo Krieger
Arcebispo de Salvador (BA)

Na quarta-feira última, quando o Papa Bento XVI se dirigiu ao mundo pela última vez  em uma audiência pública, penso que até as pedras da Praça São Pedro se emocionaram.

Acostumado a ler tudo o que ele escrevia, e a escutar o que falava, eu me surpreendi com a riqueza e a profundidade de suas palavras, aliadas a uma simplicidade encantadora. Se alguém ainda não tomou conhecimento delas, não deixe de ler, reler e meditar o que se pode chamar de seu testamento espiritual. São palavras que atravessarão os séculos. Para mim, o ponto alto foi sua afirmação: “Não abandono a cruz, mas permaneço de um modo novo junto ao Senhor Crucificado. Não tenho mais o poder do ofício para o governo da Igreja, mas no serviço da oração permaneço, por assim, dizer, no recinto de São Pedro”.

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Antecipando-nos à sua despedida, nós, bispos de Diocese Primaz do Brasil – Dom Gílson Andrade da Silva e Dom Giovanni Crippa, Bispos Auxiliares, e eu –, assinamos uma mensagem que resume como vemos a renúncia de Bento XVI e a eleição do seu sucessor. Ei-la:

“Tendo em vista a relevância do momento presente na vida da Igreja, decorrente da renúncia do Papa Bento XVI e da realização do Conclave de Cardeais para a eleição do novo Papa, nós, Bispos da Arquidiocese de São Salvador da Bahia, nos dirigimos ao nosso povo e às pessoas de boa vontade, para as seguintes considerações:

1º – Somos gratos à Sua Santidade, o Papa Bento XVI, pelo serviço que prestou à Igreja, desde sua eleição à Cátedra de Pedro. Com solicitude incomum, cumpriu a missão recebida de Jesus Cristo, de confirmar seus irmãos na fé (cf. Lc 22,32). Pastor atento, colocou em prática as orientações do apóstolo Paulo: “Proclama a Palavra, insiste oportuna ou inoportunamente, convence, repreende, exorta, com toda a paciência e com a preocupação de ensinar” (2Tm 4,2). Como não destacar, dentre os seus ensinamentos, a apresentação que nos fez de Jesus Cristo? A leitura de seus discursos, homilias, encíclicas, alocuções e, particularmente, de seu livro “Jesus de Nazaré”, faz arder o nosso coração (Lc 24,32). Peçamos ao Pastor Supremo que dê a esse fiel sucessor de Pedro graças e bênçãos especiais.

2º – Atendendo ao pedido que Bento XVI nos fez em 11 de fevereiro último, confiemos a Igreja à solicitude de Nosso Senhor Jesus Cristo que, “Cabeça do corpo que é a Igreja” (Cl 1,18), está, mais do que nunca, no meio de nós (cf. Mt 28,20).

3º – Segundo a bela expressão do Bem-aventurado Papa João Paulo II, “a Igreja está sempre no Cenáculo” (DV 66) – isto é, persevera em oração com Maria, a Mãe de Jesus (cf. At 1,14). Peçamos, pois, à Mãe Santíssima, que assista, com a sua bondade materna, os Cardeais na eleição do novo Sumo Pontífice. Para tomar consciência da força de nossa oração, lembremo-nos da Comunidade de Jerusalém, que sofria com a prisão de Pedro. “Enquanto Pedro era mantido na prisão, a Igreja orava continuamente a Deus por ele” (At 12,5). A resposta de Deus a essas preces foi imediata e surpreendente: Pedro foi libertado. Nossas orações, antes e durante o Conclave, devem voltar-se para que o escolhido seja o  Pastor que Deus de antemão preparou para a sua Igreja. Após o Conclave, elas deverão ser feitas para pedir que o novo sucessor de Pedro tenha muita sabedoria e saúde no exercício de seu ministério.

4º – Destacamos a pressão que muitos, especialmente através dos meios de comunicação, querem fazer sobre os Cardeais que participarão da eleição do Romano Pontífice. Essa pressão se manifesta pela difusão de notícias muitas vezes não comprovadas e, outras tantas, falsas e caluniosas, prejudicando gravemente pessoas e instituições. Conclamamos os católicos a se concentrarem naquilo que é essencial: rezar pelo Papa Bento XVI; rezar para que o Espírito Santo ilumine o Colégio de Cardeais; rezar pelo futuro Papa. Somos conduzidos por uma certeza: o destino da barca de Pedro está nas mãos de Deus (cf. Comunicação da Secretaria de Estado – Vaticano, 23.02.13).”

Deus o recompense por tudo, Papa emérito Bento XVI!

O homem invisível

Dom Murilo Krieger
Arcebispo de Salvador (BA)

O título desta crônica poderia dar a impressão de que farei um comentário, um tanto fora do tempo, sobre o livro publicado em 1952 pelo até então desconhecido escritor Ralph Elison. Na ocasião, ele surpreendeu o mundo literário norte-americano com uma obra que se tornou um marco na história da segregação racial dos Estados Unidos, dando origem a um filme igualmente famoso. Escolhi o título e o tema desta minha reflexão a partir da notícia que li em um jornal, numa dessas viagens que faço por obrigação de ofício. Não foi possível ficar com o texto, pois o jornal era emprestado, mas guardei as ideias gerais que o artigo abordava, ao menos da parte que consegui ler (a viagem terminou antes de minha  leitura…). Em síntese: um estudante de Sociologia, na cidade de São Paulo, quis conhecer o olhar das pessoas nas avenidas de uma cidade grande – isto é, saber o que elas realmente veem, para onde se voltam e a que dão valor. Vestiu-se por isso de forma simples, como se fosse um dos muitos trabalhadores braçais que diariamente cruzam os caminhos de todos. Sua primeira surpresa: em pouco tempo percebeu que simplesmente não era notado por ninguém! Sim, ninguém percebia sua presença, ninguém o notava, nem mesmo seus velhos conhecidos e amigos. Constatou que, para muitos, ele simplesmente não existia: havia se transformado em um homem invisível.

Tempos depois, mudou de tática: começou a andar pelas mesmas avenidas, mas vestido de terno e gravata, com uma pasta de executivo na mão. Agora, tudo mudou: era visto por todos, cumprimentado por muitos e sua passagem era saudada pelos amigos. Alguns, inclusive, não se continham e, ao vê-lo chegando, comemoravam o encontro e diziam algo assim: “Nossa, há quanto tempo não o vejo!” Bem, como não li o final do artigo, fiquei sem conhecer todas as conclusões a que o sociólogo chegou, após tão curiosa experiência. Imagino que, antes de tudo, passou a não aceitar mais o velho provérbio: “O hábito não faz o monge”. Descobriu que faz, sim, e muitas vezes chega a ser determinante para que alguém seja reconhecido na sociedade.
Aqui e ali se toma conhecimento de outras experiências, semelhantes a essa – e que, inclusive, deram origem a livros. Quem não se lembra da história de um jovem senhor que, bem vestido, passou a frequentar ambientes requintados, apresentando-se como filho de um poderoso empresário? Ninguém, nunca, se lembrou de lhe pedir documentos. Assim, participou de inúmeras festas e banquetes: sempre de graça, sempre bem acolhido!…

O tema está aberto a várias reflexões e conclusões. Escolho uma: a necessidade de estarmos atentos aos homens (e, naturalmente, às mulheres) invisíveis de nossa sociedade. O mínimo que merecem de nós é consideração e respeito. Afinal, são seres humanos, criados à imagem e semelhança de Deus. Alguns fazem trabalhos tidos como simples e, por isso mesmo, pouco considerados; outros, nem trabalho sistemático têm. Estão aí, passam ao nosso lado, nas ruas de nossas cidades, e não os vemos. Alguém já se deu ao trabalho de se perguntar como tais homens invisíveis nos olham? O que pensam de nós, de nossa autossuficiência e indiferença? Ou será que também eles julgam tudo isso natural, como se a vida fosse assim mesmo? De nossa parte, nos deveríamos perguntar: como seriam essas pessoas, se tivessem tido as condições que nós mesmos tivemos? O que seria deles, se tivessem nascido em uma família bem estruturada, se tivessem estudado e, desde seus primeiros anos de vida, tivessem crescido com as condições básicas para uma vida digna?

Segundo a antecipação que Jesus fez do julgamento final (Evangelho de Mateus, capítulo 25), seremos julgados pela acolhida (ou indiferença) que tivermos dado aos “homens invisíveis” que tiverem passado em nossos caminhos. É nossa eternidade que está em jogo. Acolher tais “homens invisíveis” não é, pois, mera questão de boa educação: é questão de amor. E do amor (ou de sua falta) nascem consequências que terão repercussão na eternidade.

Hoje é dia da Beata Irmã Dulce, o anjo bom do Brasil

Irmã Dulce morreu em 13 de março de 1992, pouco tempo antes de completar 78 anos. A fragilidade com que viveu os últimos 30 anos da sua vida, com a saúde abalada seriamente – tinha 70% da capacidade respiratória comprometida – não impediu que ela construísse e mantivesse uma das maiores e mais respeitadas instituições filantrópicas do país, batendo de porta em porta pelas ruas de Salvador, nos mercados, feiras livres ou nos gabinetes de governadores, prefeitos, secretários, presidentes da República, sempre com a determinação de quem fez da própria vida um instrumento vivo da fé.

Segunda filha do dentista Augusto Lopes Pontes, professor da Faculdade de Odontologia, e de Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes, ao nascer em 26 de maio de 1914 em Salvador, Irmã Dulce recebeu o nome de Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes. Aos 13 anos, ela já havia transformado a casa da família, na Rua da Independência, 61, num centro de atendimento a pessoas carentes. É nessa época que ela manifesta pela primeira vez o desejo de se dedicar à vida religiosa, após visitar com uma tia áreas onde habitavam pessoas pobres.

A sua vocação para trabalhar em benefício da população carente teve a influência direta da família, uma herança do pai que ela levou adiante, com o apoio decisivo da irmã, Dulcinha.

Em 8 de fevereiro de 1933, logo após a sua formatura como professora, Maria Rita entrava para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, na cidade de São Cristóvão, em Sergipe. Pouco mais de um ano depois, em 15 de agosto de 1934, era ordenada freira, aos 20 anos de idade, recebendo o nome de Irmã Dulce, em homenagem à sua mãe.

A primeira missão de Irmã Dulce como freira foi ensinar em um colégio mantido pela sua congregação no bairro da Massaranduba, na Cidade Baixa, em Salvador. Mas, o seu pensamento estava voltado para o trabalho com os pobres. Já em 1935, dava assistência à comunidade pobre de Alagados e de Itapagipe, também na Cidade Baixa, área onde viriam a se concentrar as principais atividades das Obras Sociais Irmã Dulce.

Os primeiros anos do trabalho da jovem missionária foram intensos. Em 1936, ela fundava a União Operária São Francisco, primeiro movimento cristão operário da Bahia. Em 1937, funda, juntamente com Frei Hildebrando Kruthaup, o Círculo Operário da Bahia, mantido com a arrecadação de três cinemas que ambos haviam construído através de doações – o Cine Roma, o Cine Plataforma e o Cine São Caetano. Em maio de 1939, Irmã Dulce inaugurava o Colégio Santo Antônio, escola pública voltada para operários e filhos de operários, no bairro da Massaranduba.

Nesse mesmo ano, Irmã Dulce invadiu cinco casas na Ilha dos Ratos, para abrigar doentes que recolhia nas ruas. Expulsa do lugar, ela peregrinou durante uma década, levando os seus doentes por vários lugares, até, por fim, instalá-los no galinheiro do Convento Santo Antônio, que improvisou em albergue e que deu origem ao Hospital Santo Antonio, o centro de um complexo médico, social e educacional que continua com as portas abertas para os pobres da Bahia e de todo o Brasil.

O incentivo para construir a sua obra, Irmã Dulce teve do povo baiano, de brasileiros dos diversos estados e de personalidades internacionais. Em 1988, ela foi indicada pelo então presidente da República, José Sarney, com o apoio da Rainha Sílvia, da Suécia, para o Prêmio Nobel da Paz. Oito anos antes, no dia 7 de julho de 1980, Irmã Dulce ouviu do Papa João Paulo II, na sua primeira visita ao país, o incentivo para prosseguir com a sua obra.

Os dois voltariam a se encontrar em 20 de outubro de 1991, na segunda visita do Sumo Pontífice ao Brasil. João Paulo II fez questão de quebrar o rigor da sua agenda e foi ao Convento Santo Antônio visitar Irmã Dulce, já bastante debilitada, no seu leito de enferma. Cinco meses depois da visita do Papa, os baianos chorariam a morte do Anjo Bom. No velório, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, políticos, empresários, artistas, se misturavam a dor das milhares de pessoas simples, anônimas. Muitas delas, identificadas com o que poderíamos chamar do último nível da escala social, justamente para quem Irmã Dulce dedicou a sua obra.

Cine Anunciador Especial – Irmã Dulce, o Documentário

Acesse também:

Canal Obras Sociais de Irmã Dulce – Youtube

MULHERES DE FÉ: Irmã Dulce, o anjo bom do Brasil

Irmã Dulce morreu em 13 de março de 1992, pouco tempo antes de completar 78 anos. A fragilidade com que viveu os últimos 30 anos da sua vida, com a saúde abalada seriamente – tinha 70% da capacidade respiratória comprometida – não impediu que ela construísse e mantivesse uma das maiores e mais respeitadas instituições filantrópicas do país, batendo de porta em porta pelas ruas de Salvador, nos mercados, feiras livres ou nos gabinetes de governadores, prefeitos, secretários, presidentes da República, sempre com a determinação de quem fez da própria vida um instrumento vivo da fé.

Segunda filha do dentista Augusto Lopes Pontes, professor da Faculdade de Odontologia, e de Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes, ao nascer em 26 de maio de 1914 em Salvador, Irmã Dulce recebeu o nome de Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes. Aos 13 anos, ela já havia transformado a casa da família, na Rua da Independência, 61, num centro de atendimento a pessoas carentes. É nessa época que ela manifesta pela primeira vez o desejo de se dedicar à vida religiosa, após visitar com uma tia áreas onde habitavam pessoas pobres.

A sua vocação para trabalhar em benefício da população carente teve a influência direta da família, uma herança do pai que ela levou adiante, com o apoio decisivo da irmã, Dulcinha.

Em 8 de fevereiro de 1933, logo após a sua formatura como professora, Maria Rita entrava para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, na cidade de São Cristóvão, em Sergipe. Pouco mais de um ano depois, em 15 de agosto de 1934, era ordenada freira, aos 20 anos de idade, recebendo o nome de Irmã Dulce, em homenagem à sua mãe.

A primeira missão de Irmã Dulce como freira foi ensinar em um colégio mantido pela sua congregação no bairro da Massaranduba, na Cidade Baixa, em Salvador. Mas, o seu pensamento estava voltado para o trabalho com os pobres. Já em 1935, dava assistência à comunidade pobre de Alagados e de Itapagipe, também na Cidade Baixa, área onde viriam a se concentrar as principais atividades das Obras Sociais Irmã Dulce.

Os primeiros anos do trabalho da jovem missionária foram intensos. Em 1936, ela fundava a União Operária São Francisco, primeiro movimento cristão operário da Bahia. Em 1937, funda, juntamente com Frei Hildebrando Kruthaup, o Círculo Operário da Bahia, mantido com a arrecadação de três cinemas que ambos haviam construído através de doações – o Cine Roma, o Cine Plataforma e o Cine São Caetano. Em maio de 1939, Irmã Dulce inaugurava o Colégio Santo Antônio, escola pública voltada para operários e filhos de operários, no bairro da Massaranduba.

Nesse mesmo ano, Irmã Dulce invadiu cinco casas na Ilha dos Ratos, para abrigar doentes que recolhia nas ruas. Expulsa do lugar, ela peregrinou durante uma década, levando os seus doentes por vários lugares, até, por fim, instalá-los no galinheiro do Convento Santo Antônio, que improvisou em albergue e que deu origem ao Hospital Santo Antonio, o centro de um complexo médico, social e educacional que continua com as portas abertas para os pobres da Bahia e de todo o Brasil.

O incentivo para construir a sua obra, Irmã Dulce teve do povo baiano, de brasileiros dos diversos estados e de personalidades internacionais. Em 1988, ela foi indicada pelo então presidente da República, José Sarney, com o apoio da Rainha Sílvia, da Suécia, para o Prêmio Nobel da Paz. Oito anos antes, no dia 7 de julho de 1980, Irmã Dulce ouviu do Papa João Paulo II, na sua primeira visita ao país, o incentivo para prosseguir com a sua obra.

Os dois voltariam a se encontrar em 20 de outubro de 1991, na segunda visita do Sumo Pontífice ao Brasil. João Paulo II fez questão de quebrar o rigor da sua agenda e foi ao Convento Santo Antônio visitar Irmã Dulce, já bastante debilitada, no seu leito de enferma. Cinco meses depois da visita do Papa, os baianos chorariam a morte do Anjo Bom. No velório, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, políticos, empresários, artistas, se misturavam a dor das milhares de pessoas simples, anônimas. Muitas delas, identificadas com o que poderíamos chamar do último nível da escala social, justamente para quem Irmã Dulce dedicou a sua obra.

Cine Anunciador Especial – Irmã Dulce, o Documentário

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Canal Obras Sociais de Irmã Dulce – Youtube