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O sol como fonte de energia e de vida

Dom Pedro Luiz Stringhini
Bispo de Mogi das Cruzes (SP)

O sol, na espiritualidade cristã e na liturgia da Igreja, aparece como sinal da luz de Deus, que é vida e gera vida. Na realidade, a luz solar é um dom de Deus essencial para a existência, a reprodução e a preservação de todas as formas de vida no Planeta Terra. Não de forma direta e exclusiva, pois seu calor aniquilaria a vida. Contudo, na harmonia e equilíbrio cósmicos, sua luz chega à Terra filtrado pela rica estrutura de gases e umidade que compõem a atmosfera, diminuindo de forma equilibrada a quantidade de raios prejudiciais e possibilitando, dessa forma, uma temperatura favorável à biodiversidade.

Nas últimas décadas, a humanidade foi tomando consciência de que não pode mais depender dos bens fósseis, especialmente o petróleo, o carvão e o gás, para gerar a energia que necessita para praticamente tudo na vida. De fato, a queima desses bens libera o dióxido de carbono neles contido e o emite para a atmosfera. Aumentando a quantidade relativa desses gases, que têm como função guardar parte do calor do sol que retorna do solo terrestre, dá-se o aumento geral médio da temperatura na Terra.

Esse aquecimento provoca mudanças na direção e intensidade dos ventos, na formação de nuvens, na forma de precipitação das chuvas, no degelo das águas congeladas nos pólos e nos picos das cordilheiras, no aumento do nível das águas dos mares, na formação de furacões cada vez mais intensos, no aumento dos tempos de estiagem em diferentes áreas do Planeta, de modo especial nas regiões semi-áridas.

Por isso, é vital para a humanidade, e para sua relação de responsabilidade com todos os demais seres vivos e com a própria Terra, buscar outras fontes de geração de energia e, ao mesmo tempo, empreender esforços para diminuir essa necessidade, adotando um estilo de vida mais simples e menos consumista. Nessa perspectiva, os avanços tecnológicos podem tornar possível a transformação dos raios do sol que atingem o planeta em energia elétrica. Isto é ao mesmo tempo uma boa notícia e também uma prioridade e uma responsabilidade.

A política energética brasileira não está levando em consideração o abundante potencial solar do País. Pelo contrário, continua dependendo de grandes obras de represamento dos rios e de centrais termoelétricas e nucleares. Países de menor potencial solar e eólico já envidam esforços, com sucesso, para valorizar o sol e os ventos na captação de energia, apresentando resultados que poderiam servir ao Brasil de exemplo de política energética.

Este é o motivo e o sentido da campanha que está sendo promovida pelo Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social: tornar conhecida pela população a imensa potencialidade de geração de energia solar no Brasil e pressionar os governantes para que mudem a política energética, assumindo a produção descentralizada de energia fotovoltaica como a fonte alternativa às grandes obras hidrelétricas na Amazônia e as pequenas centrais hidrelétricas construídas nos médios rios em todo o país, e abandonar em definitivo a construção de centrais termoelétricas e usinas nucleares.

O que se almeja não é a construção de “fazendas de energia solar fotovoltaica”, pois a energia continuaria sendo uma mercadoria a ser transportada para ser vendida. Deseja-se, ao contrário, que os tetos das casas, prédios, empresas, hospitais, colégios, templos, universidades e demais espaços públicos se tornem mini, micro ou médios produtores de energia pela transformação dos raios de sol em energia elétrica, utilizando a rede pública existente no sentido contrário: para levar o que não for consumido em cada unidade de produção para os grandes consumidores – as indústrias de diferentes tipos.

O Fórum ( fclimaticas@gmail.com ; telefone 61.3447.8722) está publicando subsídios de apoio à campanha. Cada cidadão pode obter e utilizar, contribuindo e fazendo sua parte na luta pela vida, pelo respeito ao ser humano e na preservação do meio ambiente. Tudo faz parte da obra de Deus, de sua vontade e seu amor.

Fórum articula ações para a Cúpula dos Povos e analisa veto parcial do novo Código Florestal

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Nos dias 24 e 25 de maio, os integrantes do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social estiveram reunidos em Brasília. Como parceira do Fórum, a CNBB foi representada no evento por dom Pedro Luiz Stringhini, bispo de Franca (SP) e membro da Comissão Episcopal Pastoral para a Caridade, Justiça e Paz. A reunião resultou na elaboração de uma carta de posicionamento diante da atual conjuntura nacional.
O bispo explicou que o encontro anual dos representes das entidades parcerias serviu para acertar os próximos passos em vista da Rio+20, a Cúpula dos Povos e o debate do novo Código Florestal. “Analisamos as medidas propostas pelo capitalismo internacional para a defesa do meio ambiente, com a chamada ‘economia verde’. Os organismos internacionais que estão próximos de grupos como agricultores, indígenas, ribeirinhos, quilombolas, não vêem essa solução como eficaz, democrática ou popular. Essa ‘economia verde’ é na verdade mais um instrumento para o capital pintar de verde o capitalismo, que sempre foi tão cinzento”.dompedroluizStringhinimaio2012

A mensagem final da reunião do Fórum reafirmou que a natureza não tem preço, ao dizer que as entidades são contrárias ao discurso que apresenta a economia verde como a solução para os problemas que o planeta. “Somos contrários à economia verde, bem como aos instrumentos apresentados pelo mercado e assumidos pelos governos no bojo da discussão do combate às mudanças climáticas”, afirmou o bispo.

Em relação ao veto parcial ao texto do novo Código Florestal, apresentado nesta sexta-feira, dom Pedro declarou satisfação com a decisão da Presidência da República. “Há tempos que o Fórum e as entidades parceiras vinham lamentado a tramitação e o resultado trágico e negativo que a Câmara dos Deputados apresentou. Por isso, recebemos com bastante conforto, alívio e alegria estes vetos todos da presidente da República. Demonstrou a sensatez, a sensibilidade à opinião, seja de quem trabalha no Ministério do Meio Ambiente, seja dos movimentos sociais e cientistas. É uma vitória, que não é total, mas em que foram vetados pontos que seriam muito nocivos à questão do meio ambiente no Brasil. Isso dá fôlego para que continuemos no trabalho de mobilização, conscientização e participação do nosso povo”.

Maria de todas as virtudes

Dom Pedro Carlos Cipolini
Bispo Diocesano de Amparo (SP)

Neste mês de maio voltamos nossos olhares para Maria a Mãe de Jesus, ela é para nós modelo de discípula, pela sua fé aderiu ao plano de Deus, colaborando com a obra da redenção desde seu início, antes mesmo dos apóstolos. Quais foram as virtudes de Maria e qual delas foi a maior?

Falar de Maria de Nazaré, a mãe de Jesus, relacionada às virtudes, nos faz primeiro refletir no sentido desta palavra “virtude” para nós cristãos. É uma palavra latina: virtus, que  designa a energia interior, a energia da alma bem nascida e formada. Existem as virtudes naturais que se adquirem e as virtudes sobrenaturais, que são infundidas e doadas, como fruto da graça de Deus agindo na pessoa. Falar de Maria  em relação às virtudes nos  remete  a uma questão teológica mais profunda, ou seja: falar de Maria e a ação do Espírito Santo nela.

Desde a origem da história do Povo de Deus na teofania do monte Sinai, até a culminação eclesial em Pentecostes, o Espírito é o mesmo: força  de Deus presente como promessa e realidade de salvação, que se concretiza e se expande  para gerar vida e vida em abundância. Jesus sem dúvida é aquele que recebeu a plenitude do Espírito Santo, na sinagoga de Nazaré ele lê o profeta Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim porque ele me consagrou com a unção…” e em seguida diz: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que vocês acabam de ouvir” ( Lc. 4, 14-21). Porém o Espírito Santo está em Maria, ela recebeu a força do Espírito Santo.

O anjo diz a Maria: “O Espírito Santo virá sobre ti e a forca do Altíssimo te envolverá com sua sombra” ( Lc. 1,35). No início do diálogo ele havia saudado Maria; “Alegra-te cheia de graça, o Senhor está contigo” ( Lc 1,28). O Senhor está com Maria e sobre ela ainda virá com sua forca (virtus) para envolvê-la totalmente. Maria então é aquela que foi envolvida por Deus a partir de dentro – ela concebe o filho de Deus – e a partir de fora: ela está envolta  na força de Deus.

Na força do Espírito Santo Maria vai percorrer um longo itinerário espiritual, no qual ela se mostra repleta de todas as virtudes que são dons e frutos do Espírito Santo. Ela trilhar um itinerário difícil: passar de mãe para discípula de seu filho. Vai mergulhando cada dia na solidão misteriosa, na qual o mistério a capturou: Jesus deve dedicar-se totalmente às coisas do Pai ( Lc 2,49) e ela vai ficar só, na sua busca “guardando e meditando em seu coração”( Lc 2,51). Maria vai a cada dia buscando e refazendo no diálogo  íntimo com Deus, a sua confiança sem limites e renovando o seu sim, o seu “faça-se”. Sendo mãe teve de comportar-se como discípula. E aí então brilha a grande virtude de Maria, a fé: “bem-aventurada você que acreditou” dirá Isabel ( Lc 1,45).

A fé e a adesão total de Maria ao plano de Deus, fez dela a primeira discípula de Jesus, pois ela foi a primeira a receber a notícia de sua vinda (anunciação) e acreditou, aderiu, confiou totalmente dispondo-se a servir e colaborar com  o plano de Deus. Na sua humildade ela se abre ao dom que lhe é proposto. Eis aí o grande amor, a caridade exemplar de Maria: amor total a Deus, amor pleno para com a humanidade. Dispôs-se a assumir a tarefa de ser a mãe do salvador, o que lhe faria sofrer certamente: “uma espada de dor traspassará seu coração”( Lc 2,35). Sendo virgem,  ela concebe em seu seio, a Palavra, que primeiro concebeu no coração pela fé. Eis aí Maria, repleta de todas as graças e virtudes: toda de Deus pela obediência, toda dos irmãos e irmãs pela generosidade sem limites.

O Concílio Vaticano II  ressalta a santidade iminente de “Maria que refulge para toda a  comunidade dos eleitos como exemplo de virtudes’( Lumen Gentium n. 65 ). Porém, nós podemos nos perguntar qual a maior virtude de Maria? Se nela brilham de maneira  fulgurante todas as virtudes  em especial a fé, a esperança e a caridade, que são virtudes teologias, qual seria a maior?  A maior virtude de Maria sem dúvida foi o desprendimento e a total disponibilidade a Deus: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”  (Lc 1, 38). E ainda, quando ela agradece ao Senhor, vai exclamar: “…olhou para a humilhação de sua escrava”(Lc 1,48).

Este desprendimento e total disponibilidade a que Maria chama de “humilhação” e que, em muitos lugares vem traduzido como humildade, é a expressão de quem está como a terra (húmus), em total disponibilidade para que sobre ela tudo se faca. Através de seu gesto de entrega total, de esvaziamento total de si, confiando de maneira absoluta na palavra e no amor do Pai, Maria se converte em receptáculo dos dons do Espírito Santo. Sem este esvaziamento, este abaixar-se e colocar-se totalmente disponível a Deus, nada poderia ter sido feito. Na medida em que saímos de todas as coisas, nesta medida Deus entra em nós, com tudo o que Ele é e tem. A oração de Maria, portanto,  foi sempre esta: “Senhor, não me dês nada, senão aquilo que Tu queres, faze, Senhor, em minha vida, em cada momento, o que tu queres e como Tu queres”.

A maior virtude de Maria foi esta perfeita simplicidade, este desprendimento total e esta disponibilidade perfeita à graça de Deus. Podemos nos perguntar: como Maria pode permanecer nesta virtude tão elevada, que constitui a busca dos maiores místicos, tanto do ocidente como do oriente. E como Maria atingiu tão grande virtude? Foi sem duvida a graça de Deus que a dotou especialmente para que pudesse cumprir sua vocação singular. Deus lhe deu uma graça especial: sua imaculada conceição. A nós  todos, o pecado torna difícil nossa entrega total a Deus, ficamos presos no egoísmo. Maria ao invés, teve a força necessária para estar totalmente disponível a Deus em um grau elevadíssimo, total.

Nisto devemos imitar Maria. Ela é o sinal da fidelidade e da disponibilidade total a Deus. Nesta imitação de Maria, em nossa caminhada para Deus, podemos estar unidos, todos, protestantes, ortodoxos e católicos. Ela é um grande sinal (cf. Ap. 12)  que Deus nos dá, para mostrar o seu poder de fazer grandes coisas nos pequenos e humildes. Quem se humilha será exaltado dirá Jesus. Quem se esvazia será planificado.  Deus estará totalmente disponível por toda a eternidade aos que foram disponíveis a Ele durante a curta peregrinação terrena. Que Maria repleta do Espírito Santo, mulher de todas as virtudes nos ajude a obtermos esta que é a fonte de todas as virtudes: humildade, desprendimento e total disponibilidade.

Nós sabemos o quanto o materialismo tomou conta dos corações. A pessoa hoje é tomada pelo desejo. A sede de prazer embota corações e mentes. A inquietação e a agitação compõem a música de fundo de nossa sociedade competitiva e violenta. Não há paz nem alegria. Pois bem, a força do Espírito Santo que envolveu Maria conferiu-lhe todas as virtudes. E isto foi possível porque ela primeiro esvaziou-se totalmente, vivenciando a grande virtude do desprendimento, ou seja, da total disponibilidade a Deus. Assim, ela  pode ser  convidada pelo anjo a alegrar-se (Lc 1,28), pois a ela  que se esvaziou completamente foi entregue por primeiro o maior dom: Jesus Cristo.

Minissérie contará a vida de dom Pedro Casaldaliga

dom-pedro_casaldaliga2012A vida de dom Pedro Casaldáliga, 84 anos, bispo emérito de São Felix de Araguaia (Mato Grosso), vai virar minissérie de TVs espanhola e brasileira.

O missionário catalão chegou ao Brasil em 1968, como conta o jornalista Francesc Escribano no livro “Descalço na terra roxa”, no qual se baseia a minissérie. A minissérie será produzida pela TV Brasil, TVc, TVe e Raiz Produções Cinematográficas. “Terra Roxa” terá 13 episódios de 22 minutos cada. Na Espanha, irá ao ar em dois episódios de 85 minutos.

O papel do religioso, que defendeu a democracia em plena ditadura militar brasileira (1964-1985) e enfrentou latifundiários e posseiros de terras, ficou com o premiado ator espanhol Eduard Fernández, que veio até o Araguaia conhecer dom Pedro Casaldáliga.

Desde que foi nomeado bispo da Prelazia de São Felix de Araguaia, em 23 de outubro de 1971, nunca deixou o Mato Grosso, com exceção de uma visita a Nicarágua em 1985 e algumas audiências na Santa Sé.

A Prelazia Territorial de São Felix teve dom Pedro como primeiro bispo prelado. Seu sucessor foi dom Leonardo Ulrich Steiner, que permaneceu no cargo até a nomeação como auxiliar de Brasília, em setembro de 2011. O atual prelado é dom Adriano Ciocca Vasino, nomeado no último dia 21 de março.