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Talvez o único “problema” do Papa Bento tenha sido a sua opção de fazer o bem em silêncio

ppbxvi240913Do ZENIT | Ultimamente a edição portuguesa de ZENIT tem recebido várias perguntas que abrangem os mais variados temas de fé e de Igreja. 

Para respondê-las pedimos ajuda ao Pe. Hélio Luciano, mestre em bioética pela Universidade de Navarra, mestre em Teologia Moral pela Pontificia Universidade Santa Cruz em Roma e membro da comissão de bioética da CNBB, que se dispôs com muito carinho a responder as perguntas selecionadas.

Publicamos a primeira parte sexta-feira, 27 de Setembro. A terceira parte será publicada na quarta-feira, 2 de Outubro.

Acompanhe abaixo duas perguntas sobre os motivos da renúncia do Papa Bento e a relação do Papa Francisco com Leonardo Boff e Frei Betto.

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ZENIT: Ouve-se dizer em alguns lugares que o Papa Bento foi obrigado a sair porque encobriu muitas falcatruas de alguns padres e cardeais. É isso mesmo?

Pe. Hélio: Muitos conhecem profundamente os méritos e a humildade do Papa Bento, mas creio que à grande maioria das pessoas, tais méritos só serão conhecidos no céu – ainda bem que devemos acumular tesouros para o céu e não para este mundo.

O Papa Bento foi quem começou reformas profundas na cúria romana – evitando carreirismos – e na Igreja. Um exemplo claro – ainda antes de ser eleito Papa – foi de exigir a denúncia de sacerdotes pedófilos às autoridades civis de cada País, evitando que tais crimes pudessem ser encobertos por bispos ou autoridades eclesiásticas.

Talvez o único “problema” do Papa Bento tenha sido a comunicação. Ele nunca investiu em marketing. Talvez se tivesse anunciado a quatro ventos o bem que fazia e as atitudes que tomava, tivesse sido melhor compreendido. Sua opção foi de fazer o bem em silêncio, repito, construindo seu tesouro em Deus e não para os homens. Alguns serviços de comunicação internacional, não tendo notícias reais sobre o que fazia o Papa, decidiram criar notícias para encher o espaço destinado à Igreja. Não faltaram também homens de igreja – na sua grande maioria carreiristas – insatisfeitos com algumas mudanças, que alimentaram este mal estar midiático.

A grandeza do Papa Bento talvez tenha se manifestado em toda a sua profundidade na coragem da sua renúncia e no silêncio profundo desde a eleição do Papa Francisco.

ZENIT: É verdade que o frei Beto e o Leonardo Boff foram perseguidos injustamente pela Igreja, porque eles defendem a verdadeira opção pelos pobres?

Pe. Hélio: Fico impressionado como muitas vezes no Brasil – dentro e fora da Igreja – são bem vistos aqueles que se rebelam, que atacam ao Magistério e que tentam dividir a Igreja de Cristo. Talvez faça parte da atual crise de autoridade que vivemos – é melhor aquele que ataca do que aquele que obedece. Será que somos tão cegos? Poderíamos entender se considerássemos a Igreja de um modo simplesmente humano – ainda assim seria uma grande ousadia, ou soberba, mas se poderia entender. Se uma instituição humana de dois mil anos tivesse se perdido e viesse um “iluminado” para dizer como retomar o caminho, este deveria ser muito “iluminado” ou muito soberbo.

Porém sabemos que a Igreja não é uma simples instituição humana. Possui o Espírito Santo que a ilumina e ajuda a ser fiel àquilo que Cristo lhe confiou. Por isso a obediência, que não é obscurantismo, pois não se trata de uma obediência cega, mas sim de uma obediência inteligente, que pode argumentar, propor, questionar. Mas a partir de um momento, ou abaixamos a cabeça afirmando nossa fidelidade a Cristo através da Igreja que Ele mesmo quis, ou nos rebelamos e desligamos da Igreja, acreditando que o Espírito Santo nos ilumina mais a nós individualmente do que à sua Igreja.

Isso não significa dizer que não houve ou não há erros dentro da Igreja – claro que existem. Mas sim que o modo de solucioná-los é a perseverança e humildade dos santos e não a soberba e arrogância de palanques. Quantos santos sofreram e foram fieis?

Quanto à opção preferencial pelos pobres é algo que sim deve ser visto. Mas podemos nos perguntar – onde tal modelo proposto foi implantado não teria aumentado ainda mais o sofrimento, a desilusão e a falta de esperança?

Talvez Deus tenha permitido tais problemas para realmente chamar nossa atenção para aqueles que necessitam de ajuda material – não podemos falar de conversão a quem morre de fome – mas a solução deve se dar dentro da Igreja, em comunhão e humildade.

(30 de Setembro de 2013) © Innovative Media Inc.

De acordo com perito teologia do Papa não é a Teologia da Libertação

(ACI/EWTN Noticias).- Embora o encontro não estivesse na lista oficial de audiências privadas do Papa Francisco, o Vaticano confirmou que a pedido do Arcebispo Gerhard Muller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o Papa Francisco recebeu na quinta-feira o Padre Gustavo Gutiérrez, o teólogo peruano considerado como um dos pais da controvertida teologia da libertação.

A amizade pessoal do Arcebispo Muller com o teólogo de 85 anos, que entrou para a ordem dos dominicanos a finais dos anos 90 para evitar estar sob a jurisdição do atual Arcebispo de Lima, Cardeal Juan Luis Cipriani, gerou uma série de especulações sobre o suposto apoio “oficial” à teologia da libertação no Vaticano.

As especulações dos vaticanistas se geraram logo depois da difusão pelo jornal do Vaticano, L’Osservatore Romano (LOR), de um ensaio do Padre Gutiérrez originalmente publicado como parte de um livro escrito com o Arcebispo Muller, publicado em alemão faz 9 anos e traduzido recentemente ao italiano. O sacerdote peruano apresentou em Roma esta edição.

Entretanto, faz alguns meses o sacerdote jesuíta argentino Juan Carlos Scannone, um dos mais conhecidos representantes da teologia da libertação na América Latina, explicou que o Papa Francisco, como sacerdote e arcebispo, nunca apoiou os postulados polêmicos do Padre Gutiérrez.

Em uma extensa entrevista que aparece no livro publicado recentemente “Francis Our Brother Our Friend” (Francisco Nosso Irmão Nosso Amigo” (Ignatius Press, 2013) do diretor do Grupo ACI, Alejandro Bermúdez, o Padre Scannone, que foi um dos professores do Papa Francisco em seu processo de formação, explicou que “na teologia da libertação há distintas correntes, e há uma que é a corrente argentina”.

No texto que dentro de pouco será publicado em sua versão original em espanhol, o Padre Scannone recorda que “o Cardeal Quarracino (antecessor do Cardeal Bergoglio como Arcebispo de Buenos Aires) apresentou ao L’Osservatore Romano o primeiro documento da Congregação para a Doutrina da Fé sobre a teologia da libertação, e ele distinguiu quatro correntes, citando sem nomear um artigo que eu tinha escrito dois anos antes”.

“E há uma corrente argentina, que o mesmo Gustavo Gutiérrez diz que é uma corrente com características próprias da teologia da libertação, que nunca usou categorias do tipo marxista ou a análise marxista da sociedade, mas sem desprezar a análise social privilegia uma análise histórica cultural”, explicou.

O perito jesuíta adicionou que “na teologia argentina da libertação não se usa a análise social marxista, mas se usa preferentemente uma análise histórica-cultural, sem desprezar o sócio-estrutural e sem ter como base a luta de classes como princípio determinante de interpretação da sociedade e da história”.

Segundo Scannone, “a linha argentina da teologia da libertação, que alguns chamam ‘teologia do povo’, ajuda a compreender a pastoral de Bergoglio como bispo; assim como muitas de suas afirmações e ensinamentos”.

Para o Padre Scannone, “há coisas que acredito que marcaram de maneira especial o Cardeal Bergoglio, sobretudo o tema da evangelização da cultura, o tema da piedade popular. Uma coisa muito de Bergoglio é falar do povo fiel. Quando saiu à sacada (de São Pedro, quando foi eleito Papa), o primeiro que fez foi pedir que o povo rezasse por ele para que Deus lhe abençoe, antes de abençoar o povo. Isso é muito dele”.

Scannone adiciona que “este tipo de teologia” sem categorias marxistas, fez parte “do ambiente no qual ele exerceu a sua pastoral. De fato, a problemática da piedade popular e da evangelização da cultura, e enculturação do Evangelho, é chave nesta linha teológica”.

Leonardo Boff pede reinterpretação do cristianismo para salvar a “crucificada” Mãe Terra

(ACI).- Leonardo Boff, considerado um dos principais impulsores da teologia marxista da libertação (TML), pediu reinterpretar o cristianismo para ajudar a “Mãe Terra” que “está crucificada” e é nossa tarefa tirá-la da cruz, como os teólogos da libertação “o fizemos durante décadas com os pobres”.

Boff, que na década de 90 abandonou o sacerdócio, casou-se com uma mulher divorciada, e se afastou da Igreja Católica para converter-se no que ele chama um “ecoteólogo de matriz católica” dedicado a escrever livros sobre ecologia e temas alheios ou contrários à doutrina católica, afirmou em uma recente palestra que o grito da terra é o grito dos pobres e o grito dos pobres é o grito da terra, nossa Mãe Terra.

A reinvidicação do ex-franciscano ocorreu no marco do Congresso Continental de Teologia, realizado em São Leopoldo (RS) na universidade jesuíta UNISINOs entre os dias 7 a 11 deste mês com a intenção de equiparar o Concílio Vaticano II com a teologia marxista da libertação. Leonardo Boff assegurou que a “marca registrada” desta vertente de teologia, condenada em seguidas ocasiões pela Igreja, é “a opção pelos pobres, contra a miséria e a opressão”.

“Dentro dessa opção pelos pobres é preciso colocar o grande pobre que é a Mãe Terra, que é a Pachamama, a Magna Mater, a Tonantzin, a Gaia, é o grande pobre devastado e oprimido”, afirmou.

Para Boff, “este organismo que chamamos Terra e do qual formamos parte” pode, em qualquer momento, “expulsar-nos como se fôssemos células cancerígenas”.

Segundo o “ecoteólogo”, a “Mãe Terra” estaria preparando um novo ser capaz de “suportar o espírito”. Citando outro conhecido promotor da teologia marxista da libertação, sancionado pela Congregação para a Doutrina da Fé, Jon Sobrino, Leonardo Boff sublinhou que “esta terra crucificada, deverá descer da Cruz, é preciso ressuscitá-la e esta é a tarefa de uma eco-teologia da libertação”.

“A teologia da libertação nasceu escutando e explicando o grito dos pobres, mas não só os pobres gritam, gritam as águas, gritam as árvores, gritam os animais, gritam os ventos, a terra grita”, disse. Segundo Boff, “o universo é autoconsciente”, tem um propósito, e a Terra “começou a pensar, sentir e amar”.

O autor disse ainda que a trindade deve ser entendida como “a grande energia fundamental”, e que trindade significa “comunhão e relações inclusivas de todos com todos”.

Boff pediu também que o conceito de Revelação seja revisado, afirmando que houve muitas manifestações de Deus na história, por isso deve-se deixar de buscar que outros se convertam ao cristianismo.

“Deus chega sempre antes dos missionários e sempre atua antes que os missionários”, assinalou.

Para o defensor da TML, o cristianismo, vai além das “margens estreitas do catolicismo atual” e que para sobreviver necessita reformular-se e entrar em harmonia com a “Mãe Terra”.

Entre os participantes no evento também se encontrava o sacerdote peruano Gustavo Gutiérrez, considerando o pai da teologia marxista da libertação, Jon Sobrino, e o Bispo de Jales (SP), Luiz Demétrio Valentini, entre outros teólogos sancionados mais de uma vez pela Igreja.