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Feliz Páscoa! Jesus vive!

Cristo Vive! Mensagem Urbi et Orbi do Papa Francisco pela Páscoa na íntegra

Festa da ressurreição de Cristo no Vaticano.
Festa da ressurreição de Cristo no Vaticano.

(ACI/EWTN Noticias).- Neste Domingo de Páscoa, como de costume, o Santo Padre saiu ao balcão que depara a Praça de São Pedro para proclamar a mensagem Urbi et Orbi (à cidade e ao mundo) pela ocasião da solenidade da Ressurreição do Senhor.

Segue a versão na íntegra da Mensagem do Papa em Português:

Amados irmãos e irmãs, boa e santa Páscoa!

Ressoa na Igreja espalhada por todo o mundo o anúncio do anjo às mulheres: «Não tenhais medo. Sei que buscais Jesus, o crucificado; não está aqui, pois ressuscitou (…). Vinde, vede o lugar onde jazia» ( Mt 28, 5-6).

Este é o ponto culminante do Evangelho, é a Boa Nova por excelência: Jesus, o crucificado, ressuscitou! Este acontecimento está na base da nossa fé e da nossa esperança: se Cristo não tivesse ressuscitado, o cristianismo perderia o seu valor; toda a missão da Igreja via esgotar-se o seu ímpeto, porque dali partiu e sempre parte de novo. A mensagem que os cristãos levam ao mundo é esta: Jesus, o Amor encarnado, morreu na cruz pelos nossos pecados, mas Deus Pai ressuscitou-O e fê-Lo Senhor da vida e da morte. Em Jesus, o Amor triunfou sobre o ódio, a misericórdia sobre o pecado, o bem sobre o mal, a verdade sobre a mentira, a vida sobre a morte.

Por isso, nós dizemos a todos: «Vinde e vede». Em cada situação humana, marcada pela fragilidade, o pecado e a morte, a Boa Nova não é apenas uma palavra, mas é um testemunho de amor gratuito e fiel: é sair de si mesmo para ir ao encontro do outro, é permanecer junto de quem a vida feriu, é partilhar com quem não tem o necessário, é ficar ao lado de quem está doente, é idoso ou excluído… « Vinde e vede»: o Amor é mais forte, o Amor dá vida, o Amor faz florescer a esperança no deserto.

Com esta jubilosa certeza no coração, hoje voltamo-nos para Vós, Senhor ressuscitado!

Ajudai-nos a procurar-Vos para que todos possamos encontrar-Vos, saber que temos um Pai e não nos sentimos órfãos; que podemos amar-Vos e adorar-Vos.

Ajudai-nos a vencer a chaga da fome, agravada pelos conflitos e por um desperdício imenso de que muitas vezes somos cúmplices.

Tornai-nos capazes de proteger os indefesos, sobretudo as crianças, as mulheres e os idosos, por vezes objecto de exploração e de abandono.

Fazei que possamos cuidar dos irmãos atingidos pela epidemia de ébola na Guiné Conacri, Serra Leoa e Libéria, e daqueles que são afectados por tantas outras doenças, que se difundem também pela negligência e a pobreza extrema.

Consolai quantos hoje não podem celebrar a Páscoa com os seus entes queridos porque foram arrancados injustamente dos seus carinhos, como as numerosas pessoas, sacerdotes e leigos, que foram sequestradas em diferentes partes do mundo.

Confortai aqueles que deixaram as suas terras emigrando para lugares onde possam esperar um futuro melhor, viver a própria vida com dignidade e, não raro, professar livremente a sua fé.

Pedimo-Vos, Jesus glorioso, que façais cessar toda a guerra, toda a hostilidade grande ou pequena, antiga ou recente!

Suplicamo-Vos, em particular, pela Síria, a amada Síria, para que quantos sofrem as consequências do conflito possam receber a ajuda humanitária necessária e as partes em causa cessem de usar a força para semear morte, sobretudo contra a população inerme, mas tenham a audácia de negociar a paz, há tanto tempo esperada.

Jesus glorioso, pedimo-vos que conforteis as vítimas das violências fratricidas no Iraque e sustenteis as esperanças suscitadas pela retomada das negociações entre israelitas e palestinianos.

Imploramo-Vos que se ponha fim aos combates na República Centro-Africana e que cessem os hediondos ataques terroristas em algumas zonas da Nigéria e as violências no Sudão do Sul.

Pedimos-Vos que os ânimos se inclinem para a reconciliação e a concórdia fraterna na Venezuela.

Pela vossa Ressurreição, que este ano celebramos juntamente com as Igrejas que seguem o calendário juliano, vos pedimos que ilumine e inspire as iniciativas de pacificação na Ucrânia, para que todas as partes interessadas, apoiadas pela Comunidade internacional, possam empreender todo esforço para impedir a violência e construir, num espírito de unidade e diálogo, o futuro do País.Que eles como irmãos possam cantar ?.

Pedimo-Vos, Senhor, por todos os povos da terra: Vós que vencestes a morte, dai-nos a vossa vida, dai-nos a vossa paz! Queridos irmãos e irmãs, feliz Páscoa!

Saudação

Queridos irmãos e irmãs,

Renovo os meus votos de feliz Páscoa a todos vós reunidos nesta Praça, vindos de todas as partes do mundo. Estendo as minhas felicitações pascais a todos que, de diversos países, estão conectados através dos meios de comunicação social. Levai às vossa famílias e às vossas comunidades o feliz anúncio que Cristo nossa paz e nossa esperança ressuscitou!

Obrigado pela vossa presença, pela vossa oração e pelo vosso testemunho de fé. Um pensamento particular e de reconhecimento pelo dom das belíssimas flores, oriundas dos Países Baixos. Feliz Páscoa para todos!

Beatos João Paulo II e João XXIII serão canonizados no domingo da Divina Misericórdia, em 2014

juan-pablo-iiO Vaticano informou nesta manhã, que na Sala do Consistório do Palácio Apostólico Vaticano, o Papa Francisco celebrou o Consistório Ordinário Público para a Canonização dos Beatos Papas João XXIII e João Paulo II. No curso, o Papa Francisco decretou que os Beatos João XXIII e João Paulo II sejam canonizados, quer dizer inscritos no Livro dos Santos, em 27 de abril do próximo ano 2014, segundo domingo de Páscoa, dia dedicado à Divina Misericórdia.

Deus o ressuscitou!

Dom Murilo S.R. Krieger
Arcebispo de Salvador (BA)

O livro dos “Atos dos Apóstolos”, escrito pelo evangelista Lucas para narrar a vida das primeiras comunidades cristãs após a morte, ressurreição e ascensão de Jesus Cristo aos céus, tem seu ponto alto nos discursos de Pedro e de Paulo. Tais discursos, chamados “querigmáticos” (Aurélio: proclamação em alta voz, anúncio), apresentam o núcleo central e essencial da mensagem cristã. Num deles, que ocorreu na cidade de Cesareia da Palestina, o apóstolo Pedro foi particularmente ousado, ao afirmar: “Eles o mataram, pregando-o na cruz. Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia” (At 10,39-40). A preocupação principal de Pedro, de Paulo e dos demais apóstolos não era a de anunciar que Jesus Cristo havia morrido, mas que ressuscitara e, portanto, estava vivo! Eles estavam convictos de que essa era a verdade mais importante que tinham para transmitir ao mundo.

Há documentos históricos que comprovam a existência de Jesus de Nazaré na Palestina e sua crucifixão em Jerusalém. Mas em que nos baseamos para afirmar que ele ressuscitou dos mortos? Em dados científicos? Certamente, não! Por mais importante que seja a ciência, ela não serve para comprovações no campo da fé. A fé é um dom e um mistério: nós a recebemos por graça divina e a razão humana não é capaz de demonstrar ou explicar o conteúdo do que nós acreditamos.

Quando se trata da ressurreição de Cristo, valem para nós o testemunho e as afirmações dos apóstolos: eles viveram para proclamar que Jesus ressuscitou, e morreram para testemunhar essa verdade. Curioso, e ao mesmo tempo significativo, foi que eles não esperavam essa ressurreição. Quando, ao terceiro dia após a morte, naquele domingo que ficaria célebre e que daria sentido a todos os demais domingos da história, os apóstolos e as santas mulheres foram ao sepulcro, tinham como objetivo cuidar do corpo de uma pessoa que havia morrido. Se estivessem esperado encontrar-se com Jesus, não teriam levado perfumes para embalsamar seu corpo. Ao verem o sepulcro vazio, ficaram inicialmente chocados; ao ouvirem a mensagem que um jovem havia transmitido às mulheres – “Procurais Jesus, o nazareno, aquele que foi crucificado? Ele ressuscitou!” –, manifestaram surpresa. Surpresos ficaram nas diversas vezes em que Jesus lhes apareceu, quando lhes perguntou se tinham alguma coisa para comer e, particularmente, ao verem que ele próprio lhes havia preparado um peixe assado.

Pode-se dizer que o coração dos apóstolos realmente mudou quando eles passaram pela experiência de Pentecostes. Cheios do Espírito Santo, perceberam a unidade que havia na pregação de Jesus, nos seus milagres e nos vários momentos de sua vida. Antes, segundo o evangelista João, “eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos”. Tendo recebido o Espírito Santo, compreenderam que tudo o que fora anunciado antes de Cristo chegara a seu ponto máximo em sua ressurreição. Ela é que dava sentido ao que haviam visto e ouvido. Essa certeza, que mudou radicalmente suas vidas, foi, portanto, fruto de um processo, de um crescimento – um processo longo e difícil.

Para nós, que vivemos em 2013, o que significa crer que Jesus ressuscitou? Crer em sua ressurreição significa ter consciência de que participamos da fé dos apóstolos. Cremos em seu testemunho. Nossa fé nos liga a Pedro, a João, a Tiago, a Bartolomeu… Somos herdeiros de suas convicções e de seu entusiasmo.

Crer na ressurreição de Cristo significa ter a convicção de que ele está vivo. Porque ele ressuscitou, nos dispomos a escutar seus ensinamentos, a viver como ele viveu e a segui-lo, dia por dia. Numa vida conduzida por essa certeza, o pecado perde cada vez mais seu espaço. Cresce, então, a dedicação pelos outros, fortalece-se o espírito de justiça e fortifica-se o desejo de construir um mundo fraterno.

“Eles o mataram, pregando-o numa cruz. Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia”. Se essa verdade nortear nossa vida, não há mais dúvidas: entendemos o sentido da Páscoa.

Ressurreição e suborno

Dom Anuar Battisti
Arcebispo de Maringá (PR)

“Depois do sábado, ao amanhecer do primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver a sepultura” (Mt 28,1). No modo de contar judaico, o sábado fechava a semana e começava a nova semana. Este primeiro dia, graças à ressurreição de Cristo, para os cristãos tornou-se o “Dia do Senhor”; em latim “Dies Domine”; em português, “Domingo”.

Quem dá a notícia às mulheres no evangelho segundo São Mateus é o anjo: “Então o anjo disse às mulheres: Não tenham medo; eu sei que vocês estão procurando Jesus que foi crucificado. Ele não está aqui, Ressuscitou como havia dito” (Mt 28, 5). “As mulheres saíram depressa do túmulo; estavam com medo, mas correram com muita alegria para dar a notícia aos discípulos” (Mt 28,8).

Domingo de Páscoa é a festa mais importante do calendário litúrgico para os cristãos. Não há solenidade maior que a Ressurreição de Cristo. Neste dia, celebramos a vitória da vida sobre a morte. Com a Sua ressurreição, o Cristo crucificado vence a dor, o sofrimento, a humilhação, a angústia e a própria morte. O luto se transforma em festa; a dor em alegria; o sofrimento em esperança; a angústia em glória. O apóstolo Paulo afirma categoricamente: “Se Cristo não tivesse ressuscitado, inútil seria a nossa fé” (cf. 1Cor 15,17). A cruz é o trono; o grito é salvação; o sangue e a água são a vida plena; o Salvador é Jesus. Por isso que a fé no ressuscitado não pode ser apenas louvor e glória. Ela é cruz, grito, sangue, dor, e salvação.

Naquele dia, diante da revolucionária notícia, as autoridades que viam o fracasso de suas artimanhas para manter as máscaras da corrupção diante do povo, inventam uma mentira. A primeira atitude é o suborno.

O evangelho segundo São Mateus – aliás, o único evangelista que relata esse fato – nos diz: “Enquanto as mulheres partiram, alguns guardas do túmulo foram à cidade, e comunicaram aos chefes dos sacerdotes tudo o que havia acontecido. Os chefes dos sacerdotes se reuniram com os anciãos, e deram uma grande soma de dinheiro aos soldados dizendo-lhes: Digam que os discípulos dele foram durante a noite, e roubaram o corpo enquanto vocês dormiam. E se o governador ficar sabendo nós o convenceremos. Assim tal boato se espalhou entre os judeus, até o dia de hoje” (Mt 28,11-15).

Não é de hoje que a inconsistência humana, a duplicidade de atitudes, o sistema da mentira, a corrupção vergonhosa está instalada no coração humano. É sempre a elite, principalmente a elite política, que inventa esquemas, tramando em beneficio próprio. Tenho certeza de que tudo isso também faz parte do plano de salvação. Jesus morreu e ressuscitou por amor a todos, e foi por amor que deu a vida para instalar definitivamente o seu Reino em nós e nas estruturas de poder. Reino que está a serviço da justiça. Reino que privilegia a solidariedade, que se fundamenta na esperança autêntica. Reino cuja força é o amor e paz.

Que Jesus ressuscitado traga para todos nós um novo alento nesta caminhada para a pátria definitiva! Quero aqui fazer o convite para que você, que acredita na Ressurreição e luta contra todo tipo de suborno, ajude a construir um mundo cada vez mais justo e fraterno.  Páscoa não é só hoje, é todo dia, ela depende de você! Feliz Páscoa!

As chagas de Cristo

Dom Milton Kenan Junior
Bispo Auxiliar de São Paulo

Estamos já às vésperas da celebração do Mistério da Morte e Ressurreição do Senhor, a celebração da Páscoa do Ressuscitado! Durante os 40 dias da Quaresma, fomos vivenciando as lições de desprendimento, de liberdade interior e de fidelidade ao Pai, que Jesus nos deixou nos Evangelhos, através da oração, da esmola e do jejum. À medida que chegamos próximos à Páscoa, vamos nos tornando mais sensíveis aos que hoje prolongam a Paixão de Cristo em suas vidas, submetidos ao peso da Cruz.

A Campanha da Fraternidade nos faz olhar para a realidade da Saúde Pública em nosso país, que exige recursos do Estado (SUS 100% publico e estatal) e, ao mesmo tempo, uma maior conscientização por parte da população para que haja novos equipamentos, controle social e participação nos conselhos, atendimento de qualidade e a garantia do direito à saúde digna para todo cidadão, preconizado pela Constituição Federal de 1988.

Além dessa realidade, outra situação é da mobilidade humana. A cada ano, o Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM) vê aumentar o número dos imigrantes e refugiados que procuram abrigo e refúgio no Brasil. Só em 2011, a Casa do Migrante em São Paulo acolheu pessoas vindas de 56 nacionalidades: a maioria delas da América Latina, da África e do Leste Europeu.

É uma realidade que se agravou, nestes últimos dois anos com a chegada dos haitianos. Vítimas do terremoto de janeiro de 2010, muitos deles são obrigados a deixar sua Pátria, suas famílias, e virem ao Brasil, em busca da sobrevivência para si e para suas famílias, em condições precárias de vida, sem apoio humanitário e perspectiva de melhores condições de vida.

Em 2011, o Centro de Acolhimento aos Refugiados, projeto executado pela Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, recebeu 145 solicitações de refúgio de cidadãos haitianos em situação bastante precária. Desses, 44 obtiveram visto de permanência concedido pelo CNIg (Conselho Nacional de Imigração), sendo que 101 ainda aguardam decisão do governo brasileiro.

Nos dois primeiros meses de 2012, já são 148 solicitações de refúgio, ou seja, 102% a mais que todo o ano passado. Eles chegam a esta Capital à espera de regulamentarem sua permanência no país e encontrarem trabalho que lhes permitam ajudar seus familiares, que ficaram no país de origem, a espera de ajuda e proteção.

As condições que enfrentam para chegar a terras brasileiras são muito difíceis. Muitos deles são vítimas do “tráfico humano”, ou seja, entregam tudo o que tem aos “coiotes” que cobram grandes quantias, prometendo-lhes transporte, estadia e condições de trabalho em solo brasileiro. Enganados, muitos desses se veem expostos às humilhações, ao roubo, a chantagem emocional, e por isso procuram no Estado e na Igreja a defesa dos seus direitos e a segurança para suas vidas.

A Cáritas da Arquidiocese de São Paulo tem, a partir do convênio com o ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), oferecido a muitos imigrantes, entre eles os haitianos, a assistência necessária para obter o visto de permanência no Brasil (refúgio), executando os Programas de: Proteção – acompanhamento jurídico; Assistência social – que prevê encaminhamento para abrigamento temporário, documentação, cuidados de saúde; Integração local; Saúde mental; e Assistência religiosa; procurando assim diminuir os impactos que a imigração provoca na vida de refugiados e migrantes na Pátria estrangeira.

A triste realidade dos haitianos, peruanos, bolivianos, africanos, que buscam acolhida no Brasil merece de nossa parte, às vésperas da celebração da Páscoa, uma atenção especial; pois, neles as chagas de Cristo continuam expostas, e infelizmente não deixam de sangrar. Quando olhamos o trabalho humanitário realizado pela Casa do Migrante em São Paulo, pelo Serviço da Pastoral do Migrante (SPM), e a Cáritas, bem como outros organismos, nos damos conta de que não faltam generosidade e disponibilidade em acolher estas irmãs e estes irmãos. Mas, não é suficiente!

Hoje os órgãos que tratam de perto a realidade da mobilidade humana estimam que o número de refugiados e estrangeiros no Brasil tende a aumentar sobremaneira atraídos pela propaganda da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016. Não podemos ignorar que no cenário mundial países como o Brasil, em acelerado crescimento econômico, surgem para muitas nações como o “paraíso prometido”, onde seria possível garantir a sobrevivência e realizar o sonho de bem estar e perspectivas melhores de vida.

Assistimos uma mudança no cenário mundial: nações que outrora gozavam de estabilidade financeira e melhores condições sociais podendo abrigar e acolher estrangeiros – hoje, veem seus cidadãos partirem em busca de trabalho e qualificação profissional naquelas nações que outrora socorreram e que hoje estão em condições de oferecer acolhimento aos que no passado acolhiam seus cidadãos. As chagas de Cristo estão expostas e sangram em tantas vidas hoje vítimas da mobilidade humana, vítimas da degradação social e necessitadas do socorro humano.

Somos tentados a ignorar a sorte desses milhares de mulheres e homens que entram em nosso país em situação de tamanha fragilidade. O Menino nascido em Belém viveu isso de perto, também Ele obrigado pelo “recenseamento” se viu obrigado a nascer num estábulo, por não encontrar lugar nas hospedarias da cidade; e para fugir à ira do rei iníquo, foi obrigado com sua família a viver como migrante no Egito, à semelhança dos seus antepassados, que tiveram que suportar o peso da migração e da exploração em terra estrangeira.

Na tarde daquela Sexta-feira, 14 de Nisan, carregando o madeiro sob os seus ombros, cruzou as ruas de Jerusalém, considerado como criminoso, não só por se dizer Filho de Deus, mas porque era galileu, um “estranho” aos olhares dos habitantes da metrópole. Hoje, em tantas vidas ameaçadas e obrigadas a deixar sua terra e sua família, está o Filho de Deus a bater à nossa porta, pedindo nossa acolhida. Lembrando as suas palavras é importante que chegará o dia em que será Ele a dizer: “Era migrante e me acolheste!”.

Mais uma vez, o Senhor nos desafia na sua condição de peregrino, exilado ou migrante. Ele espera que curvados sobre as suas chagas, o tratemos com o óleo e o vinho da acolhida e da ternura, fazendo de nossas comunidades e de nossas casas a hospedaria que acolhe o ferido da parábola (cf. Lc 10, 29-37), sem medo de acolher e servir, pois o próprio Jesus nos garante que ao retornar haverá de restituir o dobro que dispensamos aqueles que acolhemos.

Nossa Páscoa será verdadeira se abrirmos nossos corações não só ao Cristo que vem no Mistério celebrado, mas também ao Cristo vivo no irmão migrante e refugiado que precisa de nossa acolhida e espera pelo nosso amor!

A todos vocês, uma Abençoada Páscoa do Senhor!

Vamos recristianizar a Páscoa ou Qual é a do coelhinho?

No dia 24 de abril, praticamente o mundo inteiro vai celebrar uma data que, a princípio, é cristã: a Páscoa. Digo a princípio porque, à semelhança do Natal, a Páscoa nem parece mais uma festa religiosa. Se tornou a festa do consumismo de chocolate. Momento de lembramos do coelho e não de Jesus.

Vamos fazer uma comparação. Leia as duas músicas abaixo e diga qual é a que você mais escuta na época da Páscoa:

Cristo, nossa Páscoa (autor desconhecido)

Cristo, nossa Páscoa, foi imolado, aleluia!

Glória a Cristo, Rei, Ressuscitado, aleluia!

Páscoa Sagrada! Ó festa de luz!

Precisas despertar: Cristo vai te iluminar!

Páscoa Sagrada! Ó festa universal!

No mundo renovado, é Jesus glorificado!

Páscoa Sagrada! Vitória sem igual!

A cruz foi exaltada, foi a morte derrotada!

Páscoa Sagrada! Ó noite batismal!

De tuas águas puras, nascem novas criaturas!

Páscoa Sagrada! Banquete do Senhor!

Feliz a quem é dado, ser às núpcias convidado!

Páscoa Sagrada! Cantemos ao Senhor!

Vivamos a alegria, conquistada em meio à dor!

Coelhinho da Páscoa (Olga Bhering Pohlmann)

Coelhinho da Páscoa, que trazes pra mim?

Um ovo, dois ovos, três ovos assim!

Um ovo, dois ovos, três ovos assim!

Coelhinho da Páscoa, que cor eles têm?

Azul, amarelo e vermelho também!

Azul, amarelo e vermelho também!

Coelhinho da Páscoa, com quem vais dançar?

Com esta menina que sabe cantar!

Com esta menina que sabe cantar!

Coelhinho maroto, porque vais fugir?

Em todas as casas eu tenho que ir!

Em todas as casas eu tenho que ir!

#NestaPáscoaEuComemoroaRessurreiçãodeCrsito

Então? Essa festa que o mundo inteiro celebra é em homenagem ao Cristo Pascal ou ao Coelhinho da Páscoa? Parece óbvio que se homenageia o coelho que põe ovos!

Muito mais que o Natal, a Páscoa é a principal e mais importante celebração da Igreja. Isso porque foi neste evento que Nosso Senhor Jesus Cristo nos alcançou definitivamente a salvação! Pelo seu mistério pascal (Paixão-Morte-Ressurreição), a humanidade foi resgatada da escravidão do pecado e reconciliada com Deus. Esse é o sentido de se celebrar a Páscoa: a vitória da vida sobre a morte! E nós reduzimos essa grandiosidade a algumas guloseimas…

A primeira lembrança que eu tenho da Páscoa é justamente essa música do coelhinho, cantada na escola. As crianças iam para as aulas fantasiadas de coelhos, e havia gincanas para encontrar ovos de chocolate escondidos. Qual criança não gosta de chocolate e de um animal tão gracioso quanto um coelho? Essa festa, então, só podia fazer sucesso! Da mesma forma que eu esperava ansiosamente pelo Natal (para ganhar presentes), esperava pela festa da Páscoa (para ganhar ovos de chocolate). E a relação de Jesus com estas celebrações? Jesus? Quem é Jesus mesmo?

Até aí é compreensível. As escolas não têm a obrigação de ensinar preceitos religiosos. Mas e a catequese? Eu cheguei a participar de uma formação para catequistas em que nos ensinaram a cantar a música do coelhinho (olha ela de novo!) para mostrar às crianças da 1ª Eucaristia o valor da Páscoa (!).

Essa questão do coelho e dos ovos está tão absorvida pela sociedade que o mistério de Cristo está, há muito tempo, completamente eclipsado. Um exemplo claríssimo do que estou dizendo é a própria Semana Santa. A Missa de Ramos, as diversas procissões (do Encontro, do Senhor Morto…) e a Sexta-Feira da Paixão lotam as nossas igrejas e capelas… Mas quantas pessoas participam da Vigília Pascal e da Missa da Páscoa da Ressurreição? Os católicos morrem com Cristo na sexta-feira, mas se esquecem de ressuscitar com Ele no domingo! E tudo isso porquê? Por causa do bendito coelho…

Mas de onde vem esse personagem? De onde vêm os ovos? E por que são de chocolate? Muitos tentam forçar a barra e dar uma roupagem cristã a esses elementos: o coelho representa a fertilidade da Igreja, os ovos representam a vida que renasce e o chocolate a candura de Cristo… Ah, faça-me o favor!

Todos esses elementos são “importados” de culturas não-cristãs. O coelho é símbolo de fertilidade, mas não da Igreja, e sim dos cultos pagãos à natureza. Os ovos têm suas raízes nos cultos egípcios e celtas e o chocolate… Bem, o chocolate é uma jogada da indústria alimentícia, já no século XIX.

Sim, a Páscoa do Nosso Senhor converteu-se em mais uma festa consumista. Não bastasse a enxurrada de deliciosos ovos de chocolate, há inúmeros pacotes turísticos para “aproveitar” bem a Semana Santa: roteiros para Ilhéus, Porto de Galinhas, Salvador, Costa do Sauípe… São lugares maravilhosos, sem dúvida, mas essa é a época certa para um católico “pegar praia”?

Irmãos, vamos recristianizar a Páscoa! Temos que mostrar ao mundo o real significado desta data, que tem raízes na mais importante das festas judaicas. Cristo celebrou a Páscoa dos Judeus, e cumpriu toda a promessa contida nela. Ele é verdadeiro Cordeiro sacrifical, com Ele Deus sela conosco a nova e eterna Aliança!

Façamos ações concretas para esse fim, principalmente com relação às crianças. Vamos ensiná-las a cantar “Cristo, nossa Páscoa”, vamos levá-las a todas as celebrações da Semana Santa, vamos mostrar a elas que quem nos salva é Jesus, e não o coelho!

Rogo a Deus para que, no dia 24 de abril, possamos entoar alegremente com toda a Igreja o verdadeiro canto pascal:

Páscoa Sagrada! Ó festa universal!

No mundo renovado, é Jesus glorificado!

Cristo, nossa Páscoa, foi imolado, aleluia!

Glória a Cristo, Rei, Ressuscitado, aleluia!

Por João Paulo Veloso, Seminarista da Arquidiocese de Palmas e Coordenador Nacional do Ministério para Seminaristas

Fonte Jovens Conectados

Venceu a vida!

Dom Aldo Pagotto

Arcebispo Metropolitano da Paraíba – PB

Jesus ressuscita na madrugada do sábado para o domingo – o primeiro dia da semana. Domingo deriva de “dominus” tendo como referência o Senhor da vida, Jesus. Sábado refere-se ao “shabat”, dia sagrado para os hebreus, destinado ao repouso do trabalho servil, bem como ao culto de louvor e gratidão a Deus, Senhor da vida.

O evento da ressurreição de Cristo ocorre do sábado para o domingo. Eis porque no domingo os cristãos celebram a ceia memorial do Senhor, a Eucaristia, celebração da páscoa, síntese do núcleo fundamental da fé e da vida cristã. O memorial da Eucaristia celebra e atualiza o evento da morte e ressurreição do Senhor.

Em que sentido a celebração da ceia do Senhor atualiza o sacrifício de Cristo, sua crucifixão, morte e ressurreição? Entendemos a celebração da Eucaristia numa perspectiva da fé e amor do próprio Cristo. O mistério celebrado é o seu próprio amor que se torna presença. Cristo continua a se doar à humanidade sob a forma misteriosa do seu amor insondável.

O Evangelho relata a vida de Jesus revelando os desígnios do Pai que o incumbe da missão de doar a sua vida e regenerar a humanidade. A vida terrena de Jesus caminharia para sua oblação total, na entrega livre e consciente à morte de cruz. Nos misteriosos desígnios do Pai, o seu Filho deveria superar a ruptura e separação dos filhos e filhas entre si.

Doar sua própria vida ao Pai da humanidade é um gesto permanente resgatando e reunindo os filhos e filhas que se dispersaram pelo pecado de divisão. Quem não ama permanece na morte. Quem ama gera vida. A morte de Jesus na cruz gera vida nova, como o grão de trigo que morre para frutificar abundantemente.

A morte misteriosa de Cristo na cruz gera vida nova no Espírito. Ressurreição! Eis o memorial da páscoa, celebração da passagem da morte à vida. “Eu sou a ressurreição e a Vida. Aquele que crê em mim, mesmo que morra, viverá, e todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais” (Jo 11, 25-26). A missão de Jesus continua a doar vida através das atividades dos discípulos que se dispõem à construção do reino.

A continuidade dinâmica da vida de Jesus se consubstancia nas práticas efetivas de transformação das pessoas. Precisamos dessa força sobrenatural que somente Jesus possui e nos doa. Abrindo-nos à vida nova que Jesus traz em abundância, superamos as contradições e os males que enfrentamos na vida e nos relacionamentos pessoais, familiares, sociais.

Bento XVI: “A nossa responsabilidade inclui a criação, porque esta provém do Criador”

O papa Bento XVI presidiu ontem, na Basílica São Pedro, no Vaticano, a Vigília Pascal, que celebra a ressurreição de Cristo. Em sua homilia, o papa recordou que o fogo e a água são dois sinais que caracterizam a evangelização. O papa disse que na Vigília é importante falar também da criação.

“Omitir a criação significaria equivocar-se sobre a história de Deus com os homens, diminuí-la, deixar de ver a sua verdadeira ordem de grandeza. O arco da história que Deus fundou chega até às origens, até à criação”, disse Bento XVI. “A nossa responsabilidade inclui a criação, porque esta provém do Criador”, acrescentou.

Leia a íntegra da homilia

Amados irmãos e irmãs,

Dois grandes sinais caracterizam a celebração litúrgica da Vigília Pascal. Temos antes de mais nada o fogo que se torna luz. A luz do círio pascal que, na procissão através da igreja encoberta na escuridão da noite, se torna uma onda de luzes, fala-nos de Cristo como verdadeira estrela da manhã eternamente sem ocaso, fala-nos do Ressuscitado em quem a luz venceu as trevas. O segundo sinal é a água. Esta recorda, por um lado, as águas do Mar Vermelho, o afundamento e a morte, o mistério da Cruz; mas, por outro, aparece-nos como água nascente, como elemento que dá vida na aridez. Torna-se assim imagem do sacramento do Batismo, que nos faz participantes da morte e ressurreição de Jesus Cristo.

Mas não são apenas estes grandes sinais da criação, a luz e a água, que fazem parte da liturgia da Vigília Pascal; outra característica verdadeiramente essencial da Vigília é o fato de nos proporcionar um vasto encontro com a palavra da Sagrada Escritura. Antes da reforma litúrgica, havia doze leituras do Antigo Testamento e duas do Novo. As do Novo Testamento permaneceram; entretanto o número das leituras do Antigo Testamento acabou fixado em sete, que, atendendo às situações locais, se podem reduzir a três leituras. A Igreja quer, através de uma ampla visão panorâmica, conduzir-nos ao longo do caminho da história da salvação, desde a criação passando pela eleição e a libertação de Israel até aos testemunhos proféticos, pelos quais toda esta história se orienta cada vez mais claramente para Jesus Cristo. Na tradição litúrgica, todas estas leituras se chamavam profecias: mesmo quando não são diretamente vaticínios de acontecimentos futuros, elas têm um caráter profético, mostram-nos o fundamento íntimo e a direção da história; fazem com que a criação e a história se tornem transparentes no essencial. Deste modo tomam-nos pela mão e conduzem-nos para Cristo, mostram-nos a verdadeira luz.

Na Vigília Pascal, o percurso ao longo dos caminhos da Sagrada Escritura começa pelo relato da criação. Desta forma, a liturgia quer-nos dizer que também o relato da criação é uma profecia. Não se trata de uma informação sobre a realização exterior da transformação do universo e do homem. Bem cientes disto estavam os Padres da Igreja, que entenderam este relato não como narração real das origens das coisas, mas como apelo ao essencial, ao verdadeiro princípio e ao fim do nosso ser. Ora, podemo-nos interrogar: mas, na Vigília Pascal, é verdadeiramente importante falar também da criação? Não se poderia começar pelos acontecimentos em que Deus chama o homem, forma para Si um povo e cria a sua história com os homens na terra? A resposta deve ser: não! Omitir a criação significaria equivocar-se sobre a história de Deus com os homens, diminuí-la, deixar de ver a sua verdadeira ordem de grandeza. O arco da história que Deus fundou chega até às origens, até à criação. A nossa profissão de fé inicia com as palavras: «Creio em Deus, Pai todo-poderoso, Criador do Céu e da Terra». Se omitimos este início do Credo, a história global da salvação torna-se demasiado restrita, demasiado pequena. A Igreja não é uma associação qualquer que se ocupa das necessidades religiosas dos homens e cujo objetivo se limitaria precisamente ao de uma tal associação. Não, a Igreja leva o homem ao contacto com Deus e, consequentemente, com o princípio de tudo. Por isso, Deus tem a ver conosco como Criador, e por isso possuímos uma responsabilidade pela criação. A nossa responsabilidade inclui a criação, porque esta provém do Criador. Deus pode dar-nos vida e guiar a nossa vida, só porque Ele criou o todo. A vida na fé da Igreja não abrange somente o âmbito de sensações e sentimentos e porventura de obrigações morais; mas abrange o homem na sua integralidade, desde as suas origens e na perspectiva da eternidade. Só porque a criação pertence a Deus, podemos depositar n’Ele completamente a nossa confiança. E só porque Ele é Criador, é que nos pode dar a vida por toda a eternidade. A alegria e gratidão pela criação e a responsabilidade por ela andam juntas uma com a outra.

Podemos determinar ainda mais concretamente a mensagem central do relato da criação. Nas primeiras palavras do seu Evangelho, São João resumiu o significado essencial do referido relato com uma única frase: «No princípio, era o Verbo». Com efeito, o relato da criação, que ouvimos anteriormente, caracteriza-se pela frase que aparece com regularidade: «Disse Deus…». O mundo é uma produção da Palavra, do Logos, como se exprime João com um termo central da língua grega. «Logos» significa «razão», «sentido», «palavra».
Não é apenas razão, mas Razão criadora que fala e comunica a Si mesma. Trata-se de Razão que é sentido, e que cria, Ela mesma, sentido. Por isso, o relato da criação diz-nos que o mundo é uma produção da Razão criadora. E deste modo diz-nos que, na origem de todas as coisas, não está o que é sem razão, sem liberdade; pelo contrário, o princípio de todas as coisas é a Razão criadora, é o amor, é a liberdade. Encontramo-nos aqui perante a alternativa última que está em jogo na disputa entre fé e incredulidade: o princípio de tudo é a irracionalidade, a ausência de liberdade e o acaso, ou então o princípio do ser é razão, liberdade, amor? O primado pertence à irracionalidade ou à razão? Tal é a questão de que, em última análise, se trata. Como crentes, respondemos com o relato da criação e com São João: na origem, está a razão. Na origem, está a liberdade. Por isso, é bom ser uma pessoa humana. Assim o que sucedera no universo em expansão não foi que por fim, num angulozinho qualquer do cosmos, ter-se-ia formado por acaso também uma espécie como qualquer outra de ser vivente, capaz de raciocinar e de tentar encontrar na criação uma razão ou de lha conferir. Se o homem fosse apenas um tal produto casual da evolução num lugar marginal qualquer do universo, então a sua vida seria sem sentido ou mesmo um azar da natureza. Mas não! No início, está a Razão, a Razão criadora, divina. E, dado que é Razão, ela criou também a liberdade; e, uma vez que se pode fazer uso indevido da liberdade, existe também o que é contrário à criação. Por isso se estende, por assim dizer, uma densa linha escura através da estrutura do universo e através da natureza do homem. Mas, apesar desta contradição, a criação como tal permanece boa, a vida permanece boa, porque na sua origem está a Razão boa, o amor criador de Deus. Por isso, o mundo pode ser salvo. Por isso podemos e devemos colocar-nos da parte da razão, da liberdade e do amor, da parte de Deus que nos ama de tal maneira que Ele sofreu por nós, para que, da sua morte, pudesse surgir uma vida nova, definitiva, restaurada.

O relato veterotestamentário da criação, que escutamos, indica claramente esta ordem das coisas. Mas faz-nos dar um passo mais em frente. O processo da criação aparece estruturado no quadro de uma semana que se orienta para o Sábado, encontrando neste a sua perfeição. Para Israel, o Sábado era o dia em que todos podiam participar no repouso de Deus, em que homem e animal, senhor e escravo, grandes e pequenos estavam unidos na liberdade de Deus. Assim o Sábado era expressão da aliança entre Deus, o homem e a criação. Deste modo, a comunhão entre Deus e o homem não aparece como um acréscimo, algo instaurado posteriormente num mundo cuja criação estava já concluída. A aliança, a comunhão entre Deus e o homem, está prevista no mais íntimo da criação. Sim, a aliança é a razão intrínseca da criação, tal como esta é o pressuposto exterior da aliança. Deus fez o mundo, para haver um lugar no qual Ele pudesse comunicar o seu amor e a partir do qual a resposta de amor retornasse a Ele. Diante de Deus, o coração do homem que Lhe responde é maior e mais importante do que todo o imenso universo material que, certamente, já nos deixa vislumbrar algo da grandeza de Deus.

Entretanto, na Páscoa e a partir da experiência pascal dos cristãos, devemos ainda dar mais um passo. O Sábado é o sétimo dia da semana. Depois de seis dias em que o homem, de certa forma, participa no trabalho criador de Deus, o Sábado é o dia do repouso. Mas, na Igreja nascente, sucedeu algo de inaudito: no lugar do Sábado, do sétimo dia, entra o primeiro dia. Este, enquanto dia da assembleia litúrgica, é o dia do encontro com Deus por meio de Jesus Cristo, que no primeiro dia, o Domingo, encontrou como Ressuscitado os seus, depois que estes encontraram vazio o sepulcro. Agora inverte-se a estrutura da semana: já não está orientada para o sétimo dia, em que se participa no repouso de Deus; a semana inicia com o primeiro dia como dia do encontro com o Ressuscitado. Este encontro não cessa jamais de verificar-se na celebração da Eucaristia, durante a qual o Senhor entra de novo no meio dos seus e dá-Se a eles, deixa-Se por assim dizer tocar por eles, põe-Se à mesa com eles. Esta mudança é um fato extraordinário, quando se considera que o Sábado – o sétimo dia – está profundamente radicado no Antigo Testamento como o dia do encontro com Deus. Quando se pensa como a passagem do trabalho ao dia do repouso corresponde também a uma lógica natural, torna-se ainda mais evidente o alcance impressionante de tal alteração. Este processo inovador, que se deu logo ao início do desenvolvimento da Igreja, só se pode explicar com o fato de ter sucedido algo de inaudito em tal dia. O primeiro dia da semana era o terceiro depois da morte de Jesus; era o dia em que Ele Se manifestou aos seus como o Ressuscitado. De fato, este encontro continha nele algo de impressionante. O mundo tinha mudado. Aquele que estivera morto goza agora de um vida que já não está ameaçada por morte alguma. Fora inaugurada uma nova forma de vida, uma nova dimensão da criação. O primeiro dia, segundo o relato do Gênesis, é aquele em que teve início a criação. Agora tornara-se, de uma forma nova, o dia da criação, tornara-se o dia da nova criação. Nós celebramos o primeiro dia. Deste modo celebramos Deus, o Criador, e a sua criação. Sim, creio em Deus, Criador do Céu e da Terra. E celebramos o Deus que Se fez homem, padeceu, morreu, foi sepultado e ressuscitou. Celebramos a vitória definitiva do Criador e da sua criação. Celebramos este dia como origem e simultaneamente como meta da nossa vida. Celebramo-lo porque agora, graças ao Ressuscitado, vale de modo definitivo que a razão é mais forte do que a irracionalidade, a verdade mais forte do que a mentira, o amor mais forte do que a morte. Celebramos o primeiro dia, porque sabemos que a linha escura que atravessa a criação não permanece para sempre. Celebramo-lo, porque sabemos que agora vale definitivamente o que se diz no fim do relato da criação: «Deus viu que tudo o que tinha feito; era tudo muito bom» (Gn 1, 31).

Amém.

Jesus Cristo, sempre atual!

Dom Pedro Carlos Cipolini
Bispo de Amparo – SP

Nos últimos séculos, passamos por várias “idades” segundo alguns estudiosos. Primeiro a idade da religião, depois da filosofia que suplantou aquela e em seguida da ciência e da técnica. As teorias e leis científicas é que hoje tem prestígio. A filosofia, a religião são desacreditadas. O problema da técnica aliada à economia não é mais produção, mas capacidade de consumo. A ciência avançou de modo fantástico, porém, desconfia-se que existem outros meios de conhecimento ao lado da ciência (inteligência emocional). A ciência permite efeitos cada vez maiores, mas cada vez mais, fica muda sobre o sentido da realidade. O homem não se satisfaz com suas conquistas.

Em meio a esta situação, Jesus Cristo parece ser aos olhos de alguns, alguém distante, lá da idade da religião. Talvez muitos, mais jovens, já não saberiam dizer quem foi Jesus Cristo. No entanto, a Igreja o celebra, e nestes dias, revive o mistério que envolve seu sofrimento, morte e ressurreição. A Igreja foi o fato concreto surgido após a morte de Jesus e através dela o Evangelho se propagou. Mas o que pode significar para o homem de hoje a mensagem de Jesus? Qual o significado de seu sofrimento e morte?
Pode significar muito, porque em Jesus o homem pode intuir e perceber o sentido da existência. Jesus Cristo revela o ser humano a ele mesmo, basta dar-lhe uma chance, tomar conhecimento de sua mensagem, debruçar-se um pouco sobre os acontecimentos que celebramos nesta semana santa, para perceber que seu significado vai além de qualquer história já ouvida.

Em sua obra clássica, O poder do Mito, Joseph Campbell, respondendo à  pergunta, se  acreditava  que aquele que  perde sua vida ganha a vida, como Jesus ensinou, diz: “Acredito, desde que se perca a vida em nome de algo”.E mais adiante continua: “Desde que existe tempo, há sofrimento.Perda, morte, nascimento, perda, morte – e assim por diante. Ao contemplar a cruz, você está contemplando um símbolo do mistério da vida”. A cruz é símbolo de uma vida entregue para que todos tenham vida e vida em abundância.

Jesus tem tudo a dizer para o homem de hoje que busca a liberdade acima de tudo, desde o lazer até as drogas, sem  no entanto, descobrir  o que é realmente liberdade. A liberdade, a busca da liberdade, ultrapassa nossa vida puramente biológica, para nos fazer avançar na transcendência e na eternidade. A pessoa é aquilo que no ser humano transcende a morte, depois da morte algo de nosso subsiste e que não é sujeito à morte.

Jesus crucificado, que entrega sua vida, num gesto de profunda solidariedade e serviço, desperta em nós a compaixão, o amor. O outro nos questiona e, especialmente o outro que sofre. O pobre, o fraco, o pecador, nos questiona e desafia. Se você se fechar em seu egoísmo, no seu individualismo, permanecerá estéril, escravo de si mesmo. Mas se você se abrir ao diálogo e ao encontro com o outro, você vai sofrer, mas vai se redimir e despertar para o amor. E em última análise é o amor que salva, o amor como entrega, oblação e serviço. E aí se encontra o sentido da vida que é ser livre no encontro com o outro. Mesmo porque sozinho não existe liberdade, mas fuga na solidão que não realiza ninguém.

O sofrimento de Cristo na cruz não pode ser visto como castigo de Deus. Lido na perspectiva libertadora, o sofrimento pode ser caminho de vida, como o grão que cai na terra e morre para gerar a espiga. Deus tem a força de transformar o sofrimento em alegria. A cruz de Jesus representa a fidelidade de Jesus ao plano de Deus que é a fraternidade universal, a civilização do amor. A morte de Jesus foi por solidariedade com os pecadores, fracos e miseráveis. Assim, Jesus mostra que Deus é bondade, e compaixão. E se Deus é assim, abre-se uma esperança infinita para a humanidade.

A ressurreição de Jesus é a alegria luminosa de viver na esperança. A morte foi vencida pela vida. A morte não tem a última palavra. A vitória final é da vida. Em meio a uma geração como a nossa que parece cultuar as estruturas de morte, não obstante desenvolver meios incríveis de se promover a vida, tanto na medicina como na biologia, a humanidade precisa de alguém que lhe assegure que a vida é mais forte que a morte, que vida verdadeira quer dizer vida no amor. E Jesus faz isto em um grau supremo, como somente  Deus pode fazê-lo. E como dizia muito bem D. Bonhoffer: somente um Deus que sofre serve para o homem. Portanto, Jesus Cristo é sempre atual. Feliz Páscoa a todos!

Vamos recristianizar a Páscoa ou: Qual é a do coelhinho?

No dia 24 de abril, praticamente o mundo inteiro vai celebrar uma data que, a princípio, é cristã: a Páscoa. Digo a princípio porque, à semelhança do Natal, a Páscoa nem parece mais uma festa religiosa.

Vamos fazer uma comparação. Leia as duas músicas abaixo e diga qual é a que você mais escuta na época da Páscoa:

Cristo, nossa Páscoa (autor desconhecido)

Cristo, nossa Páscoa, foi imolado, aleluia!

Glória a Cristo, Rei, Ressuscitado, aleluia!

Páscoa Sagrada! Ó festa de luz!

Precisas despertar: Cristo vai te iluminar!

Páscoa Sagrada! Ó festa universal!

No mundo renovado, é Jesus glorificado!

Páscoa Sagrada! Vitória sem igual!

A cruz foi exaltada, foi a morte derrotada!

Páscoa Sagrada! Ó noite batismal!

De tuas águas puras, nascem novas criaturas!

Páscoa Sagrada! Banquete do Senhor!

Feliz a quem é dado, ser às núpcias convidado!

Páscoa Sagrada! Cantemos ao Senhor!

Vivamos a alegria, conquistada em meio à dor!

 

Coelhinho da Páscoa (Olga Bhering Pohlmann)

Coelhinho da Páscoa, que trazes pra mim?

Um ovo, dois ovos, três ovos assim!

Um ovo, dois ovos, três ovos assim!

Coelhinho da Páscoa, que cor eles têm?

Azul, amarelo e vermelho também!

Azul, amarelo e vermelho também!

Coelhinho da Páscoa, com quem vais dançar?

Com esta menina que sabe cantar!

Com esta menina que sabe cantar!

Coelhinho maroto, porque vais fugir?

Em todas as casas eu tenho que ir!

Em todas as casas eu tenho que ir!

Então? Essa festa que o mundo inteiro celebra é em homenagem ao Cristo Pascal ou ao Coelhinho da Páscoa? Parece óbvio que se homenageia o coelho que põe ovos!

Muito mais que o Natal, a Páscoa é a principal e mais importante celebração da Igreja. Isso porque foi neste evento que Nosso Senhor Jesus Cristo nos alcançou definitivamente a salvação! Pelo seu mistério pascal (Paixão-Morte-Ressurreição), a humanidade foi resgatada da escravidão do pecado e reconciliada com Deus. Esse é o sentido de se celebrar a Páscoa: a vitória da vida sobre a morte! E nós reduzimos essa grandiosidade a algumas guloseimas…

A primeira lembrança que eu tenho da Páscoa é justamente essa música do coelhinho, cantada na escola. As crianças iam para as aulas fantasiadas de coelhos, e havia gincanas para encontrar ovos de chocolate escondidos. Qual criança não gosta de chocolate e de um animal tão gracioso quanto um coelho? Essa festa, então, só podia fazer sucesso! Da mesma forma que eu esperava ansiosamente pelo Natal (para ganhar presentes), esperava pela festa da Páscoa (para ganhar ovos de chocolate). E a relação de Jesus com estas celebrações? Jesus? Quem é Jesus mesmo?

Até aí é compreensível. As escolas não têm a obrigação de ensinar preceitos religiosos. Mas e a catequese? Eu cheguei a participar de uma formação para catequistas em que nos ensinaram a cantar a música do coelhinho (olha ela de novo!) para mostrar às crianças da 1ª Eucaristia o valor da Páscoa (!).

Essa questão do coelho e dos ovos está tão absorvida pela sociedade que o mistério de Cristo está, há muito tempo, completamente eclipsado. Um exemplo claríssimo do que estou dizendo é a própria Semana Santa. A Missa de Ramos, as diversas procissões (do Encontro, do Senhor Morto…) e a Sexta-Feira da Paixão lotam as nossas igrejas e capelas… Mas quantas pessoas participam da Vigília Pascal e da Missa da Páscoa da Ressurreição? Os católicos morrem com Cristo na sexta-feira, mas se esquecem de ressuscitar com Ele no domingo! E tudo isso porquê? Por causa do bendito coelho…

Mas de onde vem esse personagem? De onde vêm os ovos? E por que são de chocolate? Muitos tentam forçar a barra e dar uma roupagem cristã a esses elementos: o coelho representa a fertilidade da Igreja, os ovos representam a vida que renasce e o chocolate a candura de Cristo… Ah, faça-me o favor!

Todos esses elementos são “importados” de culturas não-cristãs. O coelho é símbolo de fertilidade, mas não da Igreja, e sim dos cultos pagãos à natureza. Os ovos têm suas raízes nos cultos egípcios e celtas e o chocolate… Bem, o chocolate é uma jogada da indústria alimentícia, já no século XIX.

Sim, a Páscoa do Nosso Senhor converteu-se em mais uma festa consumista. Não bastasse a enxurrada de deliciosos ovos de chocolate, há inúmeros pacotes turísticos para “aproveitar” bem a Semana Santa: roteiros para Ilhéus, Porto de Galinhas, Salvador, Costa do Sauípe… São lugares maravilhosos, sem dúvida, mas essa é a época certa para um católico “pegar praia”?

Irmãos, vamos recristianizar a Páscoa! Temos que mostrar ao mundo o real significado desta data, que tem raízes na mais importante das festas judaicas. Cristo celebrou a Páscoa dos Judeus, e cumpriu toda a promessa contida nela. Ele é verdadeiro Cordeiro sacrifical, com Ele Deus sela conosco a nova e eterna Aliança!

Façamos ações concretas para esse fim, principalmente com relação às crianças. Vamos ensiná-las a cantar “Cristo, nossa Páscoa”, vamos levá-las a todas as celebrações da Semana Santa, vamos mostrar a elas que quem nos salva é Jesus, e não o coelho!

Rogo a Deus para que, no dia 24 de abril, possamos entoar alegremente com toda a Igreja o verdadeiro canto pascal:

Páscoa Sagrada! Ó festa universal!

No mundo renovado, é Jesus glorificado!

Cristo, nossa Páscoa, foi imolado, aleluia!

Glória a Cristo, Rei, Ressuscitado, aleluia!

 

Por João Paulo Veloso, Seminarista da Arquidiocese de Palmas e Coordenador Nacional do Ministério para Seminaristas

Fonte Jovens Conectados

 

A caminho da Páscoa do Senhor

A Quaresma, com início na Quarta-feira de Cinzas, é um tempo litúrgico muito importante para a nossa caminhada cristã. Ajuda as pessoas e as comunidades eclesiais a se prepararem dignamente para a celebração da Páscoa do Senhor.

O período quaresmal é tempo sobremaneira apropriado à conversão de vida e à renovação interior. Aliás, não há Quaresma sem conversão. Converter-se é separar-se do mal e voltar-se para o bem. É mudar radicalmente de vida e de critérios. A conversão radical insere-se no coração da vida. Exige gestos concretos de amor e de misericórdia, de partilha fraterna e de justiça. Podemos dizer que o cristão é um convertido em estado de conversão, pois a conversão dura, enquanto perdurar nosso peregrinar neste mundo.

Converter-se é procurar viver todos os dias a “vida nova”, da qual Cristo nos revestiu, transformando-nos Nele, para fazer um só corpo com Ele e com os irmãos.

Há em nós atitudes que devem morrer. Converter-se cada dia exige morrer aos poucos, sepultar-nos com Cristo para ressuscitarmos com Ele.

O amor de Deus chama-nos à conversão, a renunciar a tudo o que Dele nos afasta. O que mais nos afasta de Deus é o pecado. Pecar é estar no lugar errado, longe da amizade e da graça de Deus.

A conversão quaresmal significa, portanto, crescer na prática das virtudes cristãs. Somos sempre catecúmenos em formação permanente, progredindo no conhecimento e no amor de Cristo.

Ao longo da Quaresma, somos convidados a contemplar o Mistério da Cruz, entrando em comunhão com os seus sofrimentos, tornando-nos semelhantes a Ele na Sua morte, para alcançarmos a Ressurreição dentre os mortos (cf. Fl 3, 10-11). Isso exige uma transformação profunda pela ação do Espírito Santo, orientando nossa vida segundo a vontade de Deus, libertando-nos de todo egoísmo, superando o instinto de dominação sobre os outros e abrindo-nos à caridade de Cristo (cf. Bento XVI, Mensagem da Quaresma 2011).

O período quaresmal é ainda tempo favorável para reconhecermos a nossa fragilidade, abeirando-nos do trono da graça, mediante uma purificadora confissão de nossos pecados (cf. Hb 4, 16). Na Igreja “existem a água e as lágrimas: a água do Batismo e as lágrimas da penitência” (Santo Ambrósio). Vale a pena derramar essas lágrimas, através de uma boa confissão sacramental.

Jesus convida à conversão. Este apelo é parte essencial do anúncio do Reino: “Convertei-vos e crede na Boa-Nova” (Mc, 1, 15).

O itinerário quaresmal é um convite à prática de exercícios espirituais, às liturgias penitenciais, às privações voluntárias como o jejum e a esmola, à partilha fraterna e às obras de caridade (cf. Catecismo da Igreja Católica, 1438). É igualmente um tempo forte de escuta mais intensa da Palavra de Deus e de oração mais assídua.

Quanto mais fervorosa for a prática dos exercícios quaresmais, maiores e mais abundantes serão os frutos que colheremos e hauriremos do Mistério de nossa redenção.

Também a vivência da Campanha da Fraternidade ajuda a fazermos uma boa preparação para a Páscoa. A CNBB propõe para este ano o tema “Fraternidade e a Vida no Planeta”, e como Lema: “A criação geme em dores de parto” (Rm 8, 22).

Maria Santíssima, Mãe do Redentor, guie-nos neste itinerário quaresmal, caminho de conversão ao encontro pessoal com Cristo ressuscitado.

Com o coração voltado para Cristo, vencedor da morte e do pecado, vivamos intensamente o período santo e santificador da Quaresma.

Por Dom Nelson Westrupp, scj

Bispo Diocesano de Santo André – SP

Publicado no site da CNBB