
O bispo diocesano de São José do Rio Preto, dom Tomé Ferreira da Silva, pediu perdão aos fiéis que se mobilizam em um abaixo-assinado para que deixe a diocese. Em entrevista à imprensa regional, ontem à tarde, admitiu ter errado ao se distanciar dos fiéis, e prometeu mudar seu comportamento. “Errar uma vez é humano, errar duas pode ser tolerável, mas três já é difícil, né”.
Um indício dessa mudança, diz, foi sua saída temporária das redes sociais, na internet. Para dom Tomé, é hora de ser menos virtual e mais real. “É não ceder à tentação de trocar o real pelo virtual. É hora de pôr o pé no chão”.
Dom Tomé também falou sobre o relacionamento com os padres e a imprensa, o fim das creches da Cáritas Diocesana e a celeuma entre os fiéis e o padre da paróquia São Francisco, em Rio Preto. Leia a seguir os principais trechos.
Na sua opinião, o que motivou fiéis da diocese se mobilizarem para um abaixo-assinado pedindo sua saída da diocese?
Dom Tomé: Primeiro, eu peço perdão a essas pessoas por tê-las magoado ou ofendido com o meu comportamento ou modo de agir. Segundo, eu lamento que o meu modo de ser tenha ocasionado essa atitude de confeccionar o abaixo-assinado. É lamentável que o meu modo de ser tenha provocado essa ação. E terceiro, eu respeito a atitude das pessoas que assinaram. É um direito delas de se expressarem.
É possível que padres possam estar envolvidos nessa mobilização?
Dom Tomé: Eu não posso afirmar isso, porque não conheço o abaixo-assinado. E a gente não pode trabalhar sobre pressuposições.
Fiéis criticam seu distanciamento em relação a eles. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Dom Tomé: Primeiro, a minha personalidade, o meu temperamento, não são extrovertidos. Eu não tenho facilidade de estar em uma festa, quermesse, confraternização. O meu temperamento não é propenso a esse tipo de coisa. (…) E às vezes as pessoas desejam que você tenha mais tempo para estar com elas, não só dentro da atividade religiosa, mas de modo informal, social. Mas esse aspecto da sociabilidade, diante desses fatos, me levam a fazer uma autocrítica, e a exigir de mim mesmo que eu consiga trabalhar isso, para rever esse desejo das pessoas, dentro do que ofício e o temperamento permitam. (…) Não posso garantir que de uma hora para outra serei uma pessoa toda sorridente, que vá a todas as quermesses, todos os aniversários. Na (minha) experiência anterior, não havia tanta cobrança de presença em situações informais. São Paulo é outro universo, de mais individualidade.
Essa autocrítica se estende ao contato com os padres? Houve distanciamento nessa comunicação?
Dom Tomé: Os padres têm acesso direto comigo ao telefone. Pode acontecer que não possa atendê-los no momento, mas têm retorno. Para um encontro pessoal, sempre têm liberdade, e isso se faz mediante a chancelaria, com um agendamento. Não me recordo de ter deixado de atender algum padre.
Recentemente, o senhor desativou suas páginas nas redes sociais. O que o levou a tomar essa atitude?
Dom Tomé: Não houve um fato específico. Foi resultado de uma avaliação pessoal. As redes sociais são dinâmicas, demandam tempo. Ou você está nas redes e segue esse dinamismo, ou tem que se afastar. Eu estive fazendo uma peregrinação a pé, e já não fiz uso das redes sociais. Foi aí que eu achei que fosse hora de ser menos virtual e mais real. Às vezes você acha que a presença virtual responde às necessidades, e pode não responder. É não ceder à tentação de trocar o real pelo virtual. É hora de pôr o pé no chão. (…) Um dos segredos da vida é a capacidade de confrontar-se consigo mesmo. Errar uma vez é humano, errar duas pode ser tolerável, mas três já é difícil, né. Se percebo que estou trilhando um caminho que não deveria tomar, sou obrigado a rever a minha postura. Não posso ser testa dura.
Em relação à imprensa, o senhor deu pouquíssimas entrevistas. É consequência desse seu temperamento mais recatado?
Dom Tomé: Duas coisas. Não sinto que fui omisso em pronunciamentos sobre eventos ou fatos da Igreja. Sempre fiz por meio de textos semanais, publicados no blog e jornal da diocese. Outro aspecto é que há cobrança de posturas sobre alguns pontos que eu não tenho que me pronunciar, porque outras instâncias da Igreja, naquele mesmo momento, já se pronunciaram. Não tenho o que acrescentar. E, sobre fatos de natureza moral, não acho que um bispo deva se pronunciar.
O caso do padre Cleomar Bessa (que declarou ser favorável ao casamento gay pelas redes sociais) se encaixaria nessa situação?
A ocorrência do fato havia sido muito anterior à minha chegada a São José do Rio Preto. E providências já haviam sido tomadas pelos meus antecessores.
Em relação à Cáritas Diocesana, há intenção em encerrar convênio para a prefeitura de São José do Rio Preto para a manutenção das creches?
Dom Tomé: A Cáritas está com um número de obras além da sua capacidade. Hoje, temos seis creches (…) que envolve número de funcionários muito grande. Só nas creches são 300. (…) Se não nos adequarmos, estaremos daqui a alguns meses em uma situação de endividamento. A Cáritas deveria olhar para situações emergenciais, como moradores de rua, violência contra as mulheres, calamidade pública.
Um grupo de fiéis da paróquia São Francisco, em Rio Preto, critica a conduta do padre local e reclama que o senhor não os atende.
É um caso que antecede a minha chegada a São José do Rio Preto. Estamos fazendo nossa averiguação. Não há inatividade, mas dentro daquilo que determina o direito da Igreja. E muitas vezes as pessoas não entendem isso. Agora, tornar isso público todo dia, não é possível.
Que mensagem o senhor deixaria para os fiéis da diocese?
Dom Tomé: Eu pediria aos fiéis da diocese de Rio Preto, aos padres, diáconos, que me ajudassem com suas orações, com seus conselhos, com sua amizade, a ser um bispo que pudesse responder às suas expectativas. E me ajudar a vencer os meus limites, as minhas falhas, os meus erros. Tenho certeza de que vão me ajudar. Gostaria de errar o menos possível.
Fonte: Diário Web
Da redação do Portal Ecclesia.