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A Semana Santa na Tradição Católica: Uma Jornada Espiritual pela Vida, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo

A Semana Santa é um período importante para os católicos de todo o mundo. A semana começa com o Domingo de Ramos, onde é celebrada a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, montado em um jumento. Durante essa celebração, muitas pessoas trazem ramos de palmeiras e participam de procissões em homenagem a Cristo.

“A Semana Santa é uma semana de graça infinita para toda a humanidade.” – Papa João Paulo II

Ao longo da semana, muitas igrejas realizam a Via-Sacra, um ritual que relembra a caminhada de Jesus em direção ao calvário, onde ele foi crucificado. Nesse ritual, as pessoas seguem uma série de estações que retratam cada passo da Via Crucis, desde a condenação de Jesus até a sua morte e sepultamento.

Outro ritual importante da Semana Santa é a missa do Lava-Pés, realizada na quinta-feira santa. Durante essa cerimônia, o sacerdote lava os pés de doze pessoas, em memória do gesto de humildade de Jesus, que lavou os pés de seus discípulos antes da Última Ceia.

“Se soubermos acompanhar Jesus no seu caminho, ele nos renovará, nos transformará, nos dará uma nova vida.” – Papa Francisco

Na Sexta-feira Santa, é celebrada a Paixão de Cristo, onde é relembrada a morte de Jesus na cruz. Em muitas igrejas, é realizada uma procissão com uma imagem de Jesus morto, que é seguida por fiéis em sinal de respeito e devoção.

A Semana Santa culmina com a celebração da Páscoa, que é o dia em que Jesus ressuscitou dos mortos. A celebração da Vigília Pascal é o momento mais importante da liturgia da Páscoa. Durante essa cerimônia, é celebrada a luz, que é a representação da luz de Cristo, que ilumina a escuridão do mundo.

Em resumo, a Semana Santa é um período de grande importância para os católicos, onde são celebrados os momentos mais significativos da vida de Jesus Cristo. Durante a semana, são realizados vários rituais e cerimônias que lembram a trajetória de Jesus em direção à morte e ressurreição, culminando com a celebração da Páscoa, que representa a vitória de Cristo sobre a morte.

“A Semana Santa é a semana do amor, é a semana da entrega total, é a semana da salvação.” – São João Paulo II

Onde posso saber mas sobre os ritos e tadições da Semana Santa?

Existem vários documentos da Igreja Católica que oferecem orientações sobre a celebração da Semana Santa. Aqui estão alguns exemplos:

  1. “Paschalis Sollemnitatis” – Este é o documento oficial do Vaticano que estabelece as normas para a celebração da Semana Santa. Ele inclui informações sobre a liturgia do Tríduo Pascal, bem como sobre as celebrações da Quinta-feira Santa e da Sexta-feira Santa.
  2. “Mysterii Paschalis” – Este documento foi emitido pelo Papa Paulo VI em 1969 e fornece orientações sobre a celebração da Semana Santa após as reformas litúrgicas do Concílio Vaticano II.
  3. “Ceremonial of Bishops” – Este livro contém instruções sobre as cerimônias litúrgicas da Igreja Católica, incluindo aquelas realizadas durante a Semana Santa. Ele fornece orientações para os bispos e outros líderes da igreja sobre como conduzir as celebrações de forma adequada e respeitosa.
  4. “General Instruction of the Roman Missal” – Este documento contém as instruções gerais para a celebração da missa na Igreja Católica. Ele inclui informações sobre a celebração do Tríduo Pascal e outras celebrações importantes da Semana Santa.

Todos esses documentos oferecem orientações importantes para a celebração da Semana Santa na tradição católica, e são considerados importantes referências para os líderes da igreja e para os fiéis em geral.

Porque os católicos não comem carne na quaresma e principalmente na Sexta-feira da paixão?

Esse vídeo por nos ajudar um pouco.

E essas são minhas considerações diante meus anos de catequese e vida na igreja.

Essa pergunta tem sido feita a mim por várias pessoas, principalmente pelos amigos protestantes que tenho. No entanto, confesso que não tenho conhecimento teológico e doutrinal suficiente para passar, mas tenho minha fé. Que me leva a viver essa tradição e orientação da igreja de forma sadia.

Uma tradição da igreja e de seus fiéis que não deve incomodar aqueles que não a praticam.
Uma tradição da igreja e de seus fiéis que não deve incomodar aqueles que não a praticam.

Isso mesmo, orientação da Igreja. Muitos pensam que é apenas uma tradição, mas não é só isso. Em meus anos de catequese e também de vida ativa na igreja, aprendi que a igreja sempre orientou os fiéis ao jejum de carne neste período para que intensificássemos a penitência.

O peixe nesta história, não é mera coincidência, mas também é uma orientação eclesial. De fato, não sei falar o motivo exato, mas posso elencar alguns para essa prática:

  1. Porque a igreja orienta seus fiéis a que se abstenham de carne vermelha, já que Jesus derramou seu sangue por nós na sexta-feira antes da Páscoa;
  2. Porque Jesus distribuiu peixes à multidão. (Mc 6.41);
  3. Porque o peixe é o símbolo dos cristãos e porque Jesus lhes disse que todos nós fossemos “pescadores de homens”. (Mt 4.19);
  4. Porque ao fazer o sacrifício de não comer carne vermelha, tão comum em nossa rotina, os fiéis unem-se ao sacrifício de Cristo na Cruz;
  5. Porque para mim e para muitos a carne vermelha é a preferida e abster-se dela me leva a um pequeno sacrifício, incomparável ao sacrifício de Cristo na Cruz, mas que me ajuda a pensar nos sofrimentos que ele teve;
  6. Porque aprendi assim e repeito a minha fé, doutrina e igreja;
  7. Porque antes, na páscoa dos judeus, era sacrificado um cordeiro, que era preparado com ervas amargas e comido em família no dia. Para nós católicos, o cordeiro pascal é Cristo, que redime o mundo do pecado, e devido a isso não sacrificamos mais animais de carne vermelha no dia do sacrifico final do Cordeiro de Deus, Jesus. 

Essa é minha fé.

Sabe, muitos ficam falando que é balela fazer isso. Que é uma tradição besta, afinal não está na Bíblia. Contudo, eu não consigo diferenciar esse “costume” de outros modernos que muitos tem por aí. Respeito a tradição de muitos, e só gostaria que repeitassem a minha. Ao contrário de buscar justificativas para muitas coisas que minha igreja orienta, eu as vivo.

A tradição da minha igreja nasceu com Cristo e isso me basta. Muitas coisas podem não estar escritas nas sagradas escrituras, mas estão na memória de um povo que vive os mandamentos de Cristo desde sua passagem aqui na Terra. Não são invencionices alheias ou da cabeça de um líder eloquente por aí. Contudo, são costumes firmados na fé dos patriarcas eclesiais.

Se falei alguma bobagem meus caros leitores, me corrijam. E se, porventura, alguém de vós conhece outros motivos e informações completem nos comentários. Seriam interessante aprendermos juntos.

Por Marquione Ban

SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO: calvário, morte e sepultamento de Cristo

A tarde de Sexta-feira Santa apresenta o drama imenso da morte de Cristo no Calvário. A cruz erguida sobre o mundo segue de pé como sinal de salvação e de esperança. Com a Paixão de Jesus segundo o Evangelho de João comtemplamos o mistério do Crucificado, com o coração do discípulo Amado, da Mãe, do soldado que lhe traspassou o lado.

São João, teólogo e cronista da paixão nos leva a comtemplar o mistério da cruz de Cristo como uma solene liturgia. Tudo é digno, solene, simbólico em sua narração: cada palavra, cada gesto. A densidade de seu Evangelho agora se faz mais eloqüente. E os títulos de Jesus compõem uma formosa Cristologia. Jesus é Rei. O diz o título da cruz, e o patíbulo é o trono onde ele reina. É a uma só vez, sacerdote e templo, com a túnica sem costura com que os soldados tiram a sorte. É novo Adão junto à Mãe, nova Eva, Filho de Maria e Esposo da Igreja. É o sedento de Deus, o executor do testamento da Escritura. O Doador do Espírito. É o Cordeiro imaculado e imolado, o que não lhe romperam os ossos. É o Exaltado na cruz que tudo o atrai a si, quando os homens voltam a ele o olhar.

A Mãe estava ali, junto à Cruz. Não chegou de repente no Gólgota, desde que o discípulo amado a recordou em Caná, sem ter seguido passo a passo, com seu coração de Mãe no caminho de Jesus. E agora está ali como mãe e discípula que seguiu em tudo a sorte de seu Filho, sinal de contradição como Ele, totalmente ao seu lado. Mas solene e majestosa como uma Mãe, a mãe de todos, a nova Eva, a mãe dos filhos dispersos que ela reúne junto à cruz de seu Filho.

Maternidade do coração, que infla com a espada de dor que a fecunda.

A palavra de seu Filho que prolonga sua maternidade até os confins infinitos de todos os homens. Mãe dos discípulos, dos irmãos de seu Filho. A maternidade de Maria tem o mesmo alcance da redenção de Jesus. Maria comtempla e vive o mistério com a majestade de uma Esposa, ainda que com a imensa dor de uma Mãe. São João a glorifica com a lembrança dessa maternidade. Último testamento de Jesus. Última dádiva. Segurança de uma presença materna em nossa vida, na de todos. Porque Maria é fiel à palavra: Eis aí o teu filho.

O soldado que traspassou o lado de Cristo no lado do coração, não se deu conta que cumpria uma profecia realizava um últmo, estupendo gesto litúrgico. Do coração de Cristo brota sangue e água. O sangue da redenção, a água da salvação. O sangue é sinal daquele maior amor, a vida entregue por nós, a água é sinal do Espírito, a própria vida de Jesus que agora, como em uma nova criação derrama sobre nós.

A Celebração

Hoje não se celebra a missa em todo o mundo. O altar é iluminado sem mantel, sem cruz, sem velas nem adornos. Recordamos a morte de Jesus. Os ministros se prostram no chão frente ao altar no começo da cerimônia. São a imagem da humanidade rebaixada e oprimida, e ao mesmo tempo penitente que implora perdão por seus pecados.

Vão vestidos de vermelho, a cor dos mártires: de Jesus, o primeiro testeunho do amor do Pai e de todos aqueles que, como ele, deram e continuam dando sua vida para proclamar a libertação que Deus nos oferece.

Ação litúrgica na Morte do Senhor

1. A ENTRADA

A impressionante celebração litúrgica da Sexta-feira começa com um rito de entrada diferente de outros dias: os ministros entram em silëncio, sem canto, vestidos de cor vermelha, a cor do sangue, do martírio, se prostram no chão, enquanto a comunidade se ajoelha, e depois de um espaço de silêncio, reza a oração do dia.

2. Celebração da Palavra

Primeira Leitura
Espetacular realismo nesta profecia feita 800 anos antes de Cristo, chamada por muitos o 5º Evangelho. Que nos introduz a alma sofredora de Cristo, durante toda sua vida e agora na hora real de sua morte. Disponhamo-nos a vivê-la com Ele.

Leitura do Profeta Isaías 52, 13 ; 53

Eis que meu Servo há de prosperar, ele se elevará, será exaltado, será posto nas alturas.
Exatamente como multidões ficaram pasmadas à vista dele – tão desfigurado estava seu aspecto e a sua forma não parecia a de um homem – assim agora nações numerosas ficarão estupefactas a seu respeito,reis permanecerão silenciosos, ao verem coisas que não lhes haviam sido contadas e ao tomarem consciência de coisas que não tinham ouvido.

Quem creu naquilo que ouvimos, e a quem se revelou o braço do Senhor? Ele cresceu diante dele como um renovo, como raiz que brota de uma terra seca; não tinha beleza nem esplendor que pudesse atrair o nosso olhar, nem formosura capaz de nos deleitar.

Era desprezado e abandonado pelos homens, um homem sujeito à dor, familiarizado com a enfermidade, como uma pessoa de quem todos escondem o rosto; desprezado, não fazíamos nenhum caso dele.
E no entanto, era as nossas enfermidades que ele levava sobre si, as nossas dores que ele carregava.
Mas nós o tinhamos como vítima do castigo, ferido por Deus e humilhado.

Mas ele foi trespassado por causa de nossas transgressões, esmagado em virtude de nossas iniqüidades.

O castigo que havia de trazer-nos a paz, caiu sobre ele, sim, por suas feridas fomos curados.

Todos nós como ovelhas, andávamos errantes, seguindo cada um o seu próprio caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós.

Foi maltratado, mas livremente humilhou-se e não abriu a boca, como cordeiro conduzido ao matadouro; como uma ovelha que permanece muda na presença de seus tosquiadores ele não abriu a boca.

Após a detenção e julgamento, foi preso. Dentre os seus contemporâneos, quem se preocupou com o fato de ter ele sido cortado da terra dos vivos, de ter sido ferido pela transgressão do seu povo?

Deram sepultura com os ímpios, o seu túmulo está com os ricos, se bem que não tivesse praticado violência nem tivesse havido engano em sua boca.

Mas o Senhor quis feri-lo, submetê-lo à enfermidade. Mas, se ele oferece a sua vida como sacrifício pelo pecado, certamente verá uma descendência, prolongará os seus dias, e por meio dele o desígnio de Deus há de triunfar.
Após o trabalho fatigante de sua alma ele verá a luz e se fartará. Pelo seu conhecimento, o justo, meu Servo, justificará a muitos e levará sbre si as suas transgressões.
Eis porque lhe darei um quinhão entre as multidões; com os fortes repartirá os despojos, visto que entregou sua alma à morte e foi contado com os transgressores, mas na verdade levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores fez intercessão.

Palavra do Senhor

Salmo responsorial

Neste Salmo, recitado por Jesus na cruz, entrecruzam-se a confiança, a dor, a solidão e a súplica: com o Homem das dores, façamos nossa oração.

Sl 30, 2 e 6. 12-13. 15-16. 17 e 25.
Senhor, em tuas mãos eu entrego meu espírito.

Senhor, eu me abrigo em ti: que eu nunca fique envergonhado; Salva-me por sua justiça. Leberta-me . em tuas mãos eu entrego meu espírito, é tu quem me resgatas, Senhor.

Pelos opressores todos que tenho já me tornei um escândalo; para meus vizinhos, um asco, e terror para meus amigos. Os que me vêem na rua fogem para longe de mim; fui esquecido, como um morto aos corações, estou como um objeto perdido.

Quanto a mim, Senhor, confio em ti, e digo: ” tú és o meu Deus!”. Meus tempos etão em tua mão: liberta-me da mão dos meus inimigos e perseguidores. Faze brilhar tua face sobre o teu servo, salva-me por teu amor. Sede firmes, fortalecei vosso coração, vós todos que esperais no Senhor.

Segunda leitura
O Sacerdote é o que une Deus ao homem e os homens a Deus… Por isso Cristo é o perfeito Sacerdote: Deus e Homem. O Único e Sumo e Eterno Sacerdote. Do qual o Sacerdócio: o Papa, os Bispos, os sacerdotes e dos Diáconos unidos a Ele, são ministros, servidores, ajudantes…

Leitura da Carta aos Hebreus 4,14-16; 5,7-9.

Temos, portanto, um sumo sacerdote eminente, que atravessou os céus: Jesus, o Filho de Deus. Permaneçamos, por isso, firmes na profissão de fé. Com efeito, não temos um sumo sacerdote incapaz de se compadecer das nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado. Aproximemo-nos, então, com segurança do trono da graça para conseguirmos misericórdia e alcançarmos graça, como ajuda oportuna.

É ele que, nos dias de sua vida terrestre, apresentou pedidos e súplicas, com veemente clamor e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte; e foi atendido por causa da sua submissão. Embora fosse Filho, aprendeu, contudo, a obediência pelo sofrimento; e, levado à perfeição, se tornou para todos os que lhe obedeceram princípio da salvação eterna.

Palavra do Senhor.

Versículo antes o Evangelho (Fl 2, 8-9)

Cristo, por nós, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso Deus o sobreexaltou grandemente e o agraciou com o Nome que é acima de todo nome.

Como sempre, a celebração da Palavra, depois da homilia conclui-se com uma ORAÇÃO UNIVERSAL, que hoje tem mais sentido do que nunca: precisamente porque comtemplamos a Cristo entregue na cruz como Redentor da humanidade, pedimos a Deus a salvação de todos, crentes e não crentes.

3. Adoração da Cruz

Depois das palavras passamos a um ato simbólico muito expressivo e próprio deste dia: a veneração da Santa Cruz é apresentada solenemente a Cruz à comunidade, cantando três vezes a aclamação:

“Eis o lenho da Cruz, onde esteve pregada a salvação do mundo. Ó VINDE ADOREMOS”, e todos ajoelhados uns instantes de cada vez, e então vamos, em procissão, venerar a Cruz pessoalmente, com um genuflexão (ou inclinação profunda) e um beijo (ou tocando-a com a mão e fazendo o sinal da cruz ); enquanto cantamos os louvores ao Cristo na Cruz :

4. A comunhão

Desde de 1955, quando Pio XII decidiu, na reforma que fez na Semana Santa, não somente o sacerdote – como até então – mas também os fiéis podem comungar com o Corpo de Cristo.

Ainda que hoje não haja propriamente Eucaristia, mas comungando do Pão consagrado na celebração de ontem, Quinta-feira Santa, expressamos nossa participação na morte salvadora de Cristo, recebendo seu “Corpo entregue por nós”.

Fonte Catequisar

O braço do crucifixo

Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá (AP)

Numa antiga catedral, pendurado a uma grande altura, está um enorme crucifixo de prata que possui duas particularidades. A primeira é a coroa de espinhos sobre a cabeça da estátua de Jesus: toda feita em ouro maciço e ornamentada de pedras preciosas. O seu valor é incalculável. A segunda particularidade é que o braço direito da imagem de Jesus está afastado da cruz e pende no vazio. Uma história explica o que aconteceu.

Numa noite de muitos anos atrás, um ladrão corajoso e com jeito de acrobata planejou roubar a esplêndida coroa de ouro e pedras preciosas. Amarrou uma corda numa das janelas ao redor da abóbada central, acima do crucifixo, e desceu por ela até a cruz. No entanto a coroa estava solidamente fixada na cabeça da estatua e o ladrão tinha só uma faca para tirá-la. Enfiou a faca de baixo da coroa e começou a mexer com todas as suas forças. Pelejou por muito tempo suando e bufando. A lâmina da faca quebrou, e a corda também se desprendeu da janela porque não aguentou tanta agitação. O ladrão ia se espatifar no chão da catedral, mas, de repente, o braço do crucifixo o agarrou e o segurou. Sorte grande a do ladrão! Na manhã seguinte, os zeladores da igreja o encontraram lá em cima, são e salvo. O braço do crucifixo, ainda, o estava segurando. A história não revela mais detalhes, portanto não dá para conferir, mas acolhemos com simplicidade a mensagem.

Estamos chegando perto da Páscoa e, por isso, somos convidados a olhar com mais atenção a Jesus crucificado. No evangelho deste domingo, ele nos fala do grão de trigo que, para produzir frutos, deve morrer. De outra forma, continuaria sendo apenas um grão de trigo. É uma comparação clara para nos convencer a fazer da nossa vida um dom. Jesus garante que quem quiser segurar a própria vida, no final, irá perdê-la, mas quem a tiver doado com generosidade a conservará para a vida eterna. Mais uma vez somos chamados a tomar uma decisão sobre o nosso jeito de viver. Ser cristão é crer no Filho que o Pai enviou e viver seguindo o seu exemplo. O amor de Jesus foi até a cruz, portanto ele pode pedir uma resposta generosa de nossa parte porque, por primeiro, ele nos amou até o último suspiro de sua vida terrena.

Aprendemos também, no evangelho, que um grupo de gregos pede ao apóstolo Filipe para poder “ver” Jesus. Talvez seja também a nossa legítima e, às vezes, angustiante curiosidade. No entanto a resposta que ele nos dá ajuda a entender que apenas vê-lo  ainda não significa acolhê-lo e, menos ainda, amá-lo e segui-lo no caminho da cruz. Em outras palavras, parece-me, que Jesus nos convide a passar de um conhecimento visual ou intelectual a um seguimento real e amoroso, tornando-nos “servidores” dele, aprendendo com ele a servir e não a dominar; a doar a nossa vida para o bem dos irmãos, em lugar de, quem sabe, aproveitar-nos deles, ou até tirar-lhes a vida ou o necessário para viver. O nosso verdadeiro encontro com Jesus passa pela cruz; somente quem consegue sair do seu egoísmo e compadecer-se pelos sofrimentos dos irmãos começa a perceber o quanto grande foi o amor gratuito dele. De outra maneira, o que pensamos ser o nosso conhecimento sobre o Senhor não passará de discussões e debates feitos de palavras. Jesus não nos salvou com teorias ou projetos mirabolantes, ele assumiu a nossa condição humana até a morte e nos mostrou o único caminho para uma verdadeira mudança.

Quantos planos de reformas, bonitos e bem estudados em si, não saem do papel simplesmente porque ninguém quer renunciar a nada, porque todos querem – ou queremos – ficar agarrados aos nossos privilégios, disfarçados, às vezes, de direitos? Hoje parece impensável, vergonhoso e sinal de derrota, perder alguma coisa. Perder algo, fique claro, para que outros possam ganhar em dignidade, saúde, felicidade e vida plena. Assistimos a uma disputa desenfreada para conseguir mais. Qualquer coisa serve: dinheiro, prestígio, poder. Como se tudo fosse sem fim e sem limites. Jesus fala de “perder” não um pouco do nosso salário, um jogo, ou uma disputa eleitoral, mas de perder, doando-a, a nossa própria vida. É quando a doamos que encontraremos novamente, bem guardada, como um tesouro imperecível no céu.

Somos todos, um pouco, como aquele ladrão da catedral. Queremos a coroa de ouro exclusivamente para nós. Jesus quer nos segurar nos seus braços para nos salvar do abismo da ganância. Esta conduz ao esquecimento – que depois é a morte – do nosso próximo. Seguindo Jesus no caminho da vida oferecida seremos abençoados por Deus e pelos pobres. Salvando a vida deles, salvaremos também a nossa para sempre.