Neste Dia das Mães, o coração da Igreja se volta com ternura àquela que é modelo de maternidade, fé e entrega: Maria, a Mãe de Jesus, a Mãe de Deus, e nossa Mãe espiritual. A veneração mariana é uma das marcas da espiritualidade católica, e seu título mais elevado — Theotokos, ou “Mãe de Deus” — está no centro da nossa fé desde os primeiros séculos do cristianismo.
Mas por que, afinal, chamamos Maria de Mãe de Deus?
1. Fundamento Bíblico
A base do título “Mãe de Deus” está nas Sagradas Escrituras. No Evangelho de Lucas, lemos que Isabel, cheia do Espírito Santo, saúda Maria com as palavras:
“Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe do meu Senhor?” (Lucas 1,43)
A palavra “Senhor” (Kyrios) aqui refere-se ao próprio Deus. Para o povo judeu, chamar alguém de “Senhor” com essa reverência era atribuir-lhe divindade. Isabel reconhece, portanto, não apenas a maternidade biológica de Maria, mas sua ligação com a encarnação divina.
2. Definição Dogmática no Concílio de Éfeso (431 d.C.)
O título Theotokos foi solenemente declarado no Concílio de Éfeso, no ano de 431, como resposta às heresias que negavam a plena união entre a natureza humana e divina de Jesus Cristo. O Concílio afirmou:
“Se alguém não confessa que o Emmanuel é verdadeiramente Deus, e que, por isso, a santa Virgem é Mãe de Deus (Theotokos), porque deu à luz segundo a carne o Verbo de Deus feito carne… seja anátema.” (Concílio de Éfeso, DS 251)
A definição dogmática reafirma uma verdade central: Maria é Mãe de Deus não porque gerou a divindade, mas porque gerou Jesus Cristo, que é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, uma única pessoa com duas naturezas.
3. Testemunho dos Padres da Igreja
Santo Atanásio, defensor da fé contra o arianismo, dizia:
“A Santa Virgem é, de fato, Mãe de Deus, pois deu à luz segundo a carne ao Verbo de Deus feito carne.” (Discursos contra os arianos, II, 70)
Já Santo Cirilo de Alexandria, grande figura do Concílio de Éfeso, escrevia:
“Assim como uma mulher é chamada mãe de um homem, mesmo que a alma não venha dela, Maria é legitimamente Mãe de Deus, embora a divindade não venha dela.” (Epístola ao bispo Nestório)
4. Referência no Catecismo da Igreja Católica
O Catecismo da Igreja Católica reafirma a doutrina:
“Maria é verdadeiramente Mãe de Deus, porque é a mãe do Filho eterno de Deus feito homem, que é Deus Ele mesmo.” (CIC 509)
E ainda:
“Por sua total adesão à vontade divina, Maria tornou-se para a Igreja o modelo da fé e da caridade. Por isso, ela é ‘mãe dos membros de Cristo’ […]” (CIC 967–968)
5. Maria, Mãe da Igreja e de Cada Um de Nós
Ao pé da cruz, Jesus entrega sua Mãe ao discípulo amado:
“Mulher, eis aí teu filho.” (João 19,26)
E ao discípulo: “Eis aí tua mãe.” (João 19,27)
Esse gesto final de Jesus é interpretado não apenas como um ato de cuidado familiar, mas como a entrega de Maria à humanidade como mãe espiritual. Ela cuida, intercede e conduz seus filhos à obediência amorosa a Cristo.
Neste Dia das Mães, ao homenagearmos aquelas que nos deram a vida, rendamos também graças à Mãe de Deus, que com sua fé, humildade e coragem cooperou com o plano de salvação. Que Maria, Mater Dei, nos ajude a viver com confiança e fidelidade o chamado de Deus em nossas vidas.